O Último Sermão de James Renwick
Pregado em 29 de janeiro de 1688.
Quem tem acreditado em nosso relato? E a quem é o braço do SENHOR revelado? (Isaías 53.1)
Esse capítulo contém uma profecia de Cristo e dos grandes sofrimentos que Ele passaria para a redenção dos pobres pecadores. E o profeta começa com uma triste queixa, de que nem o relato que ele deu de Cristo seria acreditado por muitos, nem ainda o relato que Cristo daria de si mesmo; e que, embora o braço do Senhor fosse e devesse ser revelado maravilhosamente, o mesmo não era, nem seria levado em conta pela maior parte.
Para explicar um pouco as palavras, vou lhe mostrar:
I. Os vários significados que a palavra, crer, tem nas Escrituras.
1. Significa dar crédito à palavra de Deus. 1 João 5.10: “aquele que não crê em Deus faz dele um mentiroso, porquanto não crê no testemunho que Deus deu de seu Filho”.
2. Significa apenas concordar com as verdades do evangelho. Atos 8.13: “E o próprio Simão também creu”, ou seja, ele concordou com a verdade do evangelho em sua mente, mas não deu o consentimento de sua vontade, pois estava em fel de amargura e em laço de iniquidade. Mesmo assim, quando a palavra vem com luz, perspicuidade e poder, pode ganhar tanto a consciência, a ponto de obter o consentimento da mente e do entendimento para a verdade e veracidade do que é falado, de modo que nada pode ser objetado contra ela; enquanto ainda, nem o coração está quebrado, a vontade renovada, nem os afetos mudados, e assim Cristo não é abraçado como oferecido no evangelho; então meus amigos, vocês devem ter mais do que isso, vocês devem não apenas dar o consentimento da mente, mas também o consentimento da vontade para a verdade do evangelho.
3. Significa conhecer. João 17.23: “e para que o mundo conheça que tu me enviaste”. Os demônios obtém sucesso nisso, eles sabem que existe um Deus; que Cristo morreu pelos pecadores e que há salvação pelo seu sangue. Tiago 2.19: “os demônios também creem, e tremem”.
4. Significa estar totalmente persuadido e seguro da certeza de uma coisa. Lucas 1.45: “E abençoada a que creu; porque haverá cumprimento das coisas que foram ditas pelo Senhor.”
5. Significa aguardar ou esperar por algo. Salmo 27.13: “Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria a bondade do Senhor na terra dos viventes.”
6. Significa receber e aproximar-se de Cristo como Ele é oferecido no evangelho. João 1.12: “Mas a todos quantos o receberam, a eles deu o poder de se tornarem os filhos de Deus, aqueles que creem em seu nome;”. Isto é, quando a alma faz uma aplicação com confiança de Cristo e das promessas a si mesma, essa é a verdadeira fé salvadora e justificadora.
Essa crença mencionada no texto pode ter relação com todos esses vários significados. O profeta e ministros podem queixar-se, que o crédito não é dado à palavra de Deus; que o assentimento da mente, nem o consentimento da vontade não são dados às verdades do evangelho; que as pessoas não conhecem; que eles não estão totalmente persuadidas; que eles não esperam; que Cristo não é recebido. Entretanto, a principal coisa que isso significa: “Quem tem acreditado em nosso relato?”, é que Cristo não foi recebido, aproximado e abraçado.
II. A palavra braço também tem diversos significados nas Escrituras.
1. É considerado o braço natural. 2 Samuel 1.10: “e tomei a coroa que estava sobre a sua cabeça, e o bracelete que estava no seu braço.”
2. Significa força externa. 2 Crônicas 32.8: “Com ele está um braço de carne”. Salmo 10.15: “Quebra o braço do perverso e do homem maligno”.
3. Significa o poder de Deus, como o poder pelo qual ele fez o céu e a terra. Jeremias 27.5: “Eu fiz a terra, o homem e os animais que estão sobre o chão, por meu grande poder, e por meu braço estendido”, veja também Jeremias 32.17.
4. Significa o evangelho; no qual é significado que tem aqui no texto. Assim, o profeta aqui reclama que, embora o braço do Senhor tenha sido revelado, na revelação de Cristo no evangelho e da salvação apresentada nEle, para ser obtida nEle e por meio dEle, ainda assim o relato disso não foi, nem seria não ser acreditado como deveria.
Agora, eu chego às doutrinas:
DOUTRINA 1: Que muitas vezes os ministros de Cristo têm, devido a sua queixa, que a mensagem e o ofício que eles têm em comissão dEle, não são acreditadas, nem o relato delas recebe crédito.
Esta foi a queixa do profeta aqui e tem sido a queixa dos ministros do evangelho em todas as épocas; e pode ser a nossa queixa neste dia. Infelizmente! Os professantes da Escócia não acreditaram no relato daquilo que os ministros receberam de Cristo para lhes dizer; eles não o creditaram, embora tenham sido sérios ao lhes dizer o mesmo.
No prosseguimento desta doutrina, mostrar-vos-ei algumas coisas que os ministros desta terra declararam ao povo que receberam dEle; mas, infelizmente, o relato do mesmo não foi acreditado pela maior parte, embora o braço do Senhor tenha sido revelado, ainda assim o mesmo não foi levado em consideração, nem o que foi dito recebeu crédito pela maior parte.
1. Isto vos foi declarado, pelos fiéis ministros de Cristo, a pecaminosidade e miséria de seu estado natural, e o grande perigo de continuar no mesmo. Foi-vos dito que nascestes num estado miserável; em um estado de inimizade contra Deus; herdeiros do inferno e filhos da ira; e, no entanto, a maior parte não recebe, nem acredita. Você não acredita nesse relato, embora tenha sido muitas vezes, repetidas vezes, dito a você. Todos vocês que não são sensíveis e pesarosos sob o sentido desse estado lamentável e triste, e não procuram o caminho certo para sair dele; vocês não acreditaram neste relato; e por isso, inevitavelmente perecereis.
2. Isso foi dito a você, sua própria impotência, para se livrar dessa condição miserável. Não lhe foi dito que tudo o que você poderia fazer neste caso seria sem propósito, sem fé em Cristo? Pois, por natureza, vocês não são apenas incapazes, mas não desejam ser libertados desse estado; então, suponha que você nunca fez tanto em sua própria força, isso seria apenas como trapos podres e a teia de aranha. Pois, todos vocês que não fugiram para Cristo pela fé, para serem libertados desse estado e se unirem-se com ele; mas foram fazer um Salvador de seus deveres e estabelecer sua própria justiça, ou colocar qualquer coisa no lugar de Cristo, vocês não creram nesse relato.
3. Foi-vos mostrado que não só fostes incapazes de livrar-vos daquele estado miserável em que estais por natureza, mas também indignos de que alguém o fizesse por vós. Foi-vos dito quão indignos eram de salvação, isso deveria tê-los humilhado e serem quebrado em vocês mesmos. Entretanto, todos vocês que não se humilham sob o senso de seu pecado e de sua indignidade, e se julgam dignos da salvação e do céu, ou mais dignos do que os outros, não creram nesse relato. Oh! Convença-se de seu pecado e miséria, e deixe que o senso disso o humilhe; e considerem-se indignos de salvação.
4. Isto vos foi declarado, pelos fiéis embaixadores de Cristo, que embora não fostes capazes de vos livrar daquele triste estado em que estais por natureza, a insuficiência de todos os vossos deveres ou o esforço de qualquer outra criatura para esse fim e que sois indignos de serem libertados, mas houve um Salvador e um Redentor, sim, Jesus Cristo, o filho de Deus. Não te foi dito, aquela palavra fiel e digna de toda aceitação, que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1 Timóteo 1.15). E que Ele é um Salvador todo-suficiente e bem equipado, capaz de salvar perfeitamente todos os que vêm a Deus por meio dele? (Hebreus 7.35). Contudo, todos vocês que não fugiram de si mesmos para Jesus Cristo, e não creram nele, nem se apegaram a Ele para salvação e não o consideraram como precioso, não creram nesse grande relato, que muitas vezes tem sido mostrado para você, a saber, que sua salvação eterna depende disso. Oh! Acredite neste relato seguro, que Cristo é um Salvador todo-suficiente. Oh! portanto, acredite nEle; Ele é capaz de salvá-lo.
5. Foi dito a você a necessidade de uma união real com Cristo, nos termos do evangelho, como seu Profeta, Sacerdote e Rei. Foi-vos declarado que deveis entrar em aliança, aproximá-lo e abraçá-lo, como se fosse vosso; e que deveis entregar-vos a Ele, para ser dEle e para Ele, e contudo isto não foi acreditado por muitos de vós. Pois todos vós, que estais servindo a outros senhores e não deixastes os vossos pecados, concupiscências e ídolos, não se uniram com ele, nos termos que Ele se oferece; nem fizestes aliança com Ele; e não entregaram a si mesmos e tudo o que vocês têm a Ele, para ser dEle, e para Ele, e à sua disposição. Vocês não deram crédito a esse relato.
6. Foi-vos pregado a necessidade de santidade de coração e a necessidade que tinhas de ter o vosso coração, bem como os vossos caminhos mudados e limpos; e que purifiqueis vossos corações de todas as vossas concupiscências e ídolos. A falta disso tem provocado ao Senhor. E isso não foi dito a você? Ó Jerusalém, lava o teu coração da perversidade, para que tu possas ser salva. Até quando irão teus vãos pensamentos se alojar dentro de ti? (Jeremias 4.24). Contudo, o relato disso não recebeu crédito pela maior parte; pois, todos vocês que não fizeram o seu exercício, para iniciar a obra da mortificação, e não fizeram da santificação e santidade de coração o seu empenho, vocês não acreditaram nesse relato.
7. Os ministros pregaram a vocês a necessidade de um procedimento santo evangélico, exigido de suas mãos, bem como a santidade do coração, para que você se dê uma santa caminhada pessoal, adequada à sua profissão. Mas, oh! Isso não foi acreditado pela maior parte; pois todos vocês que são escandalosos em sua caminhada pessoal, vocês que não se exercitam em ter um caminhar adequado ao evangelho não creram no relato disso. Oh! Meus amigos, trabalhem pela santidade do coração, pela religião do coração. Deixe seu caminhar ser como convém ao evangelho.
8. Os fiéis ministros de Cristo pregaram e declararam a vocês, a pecaminosidade das abominações do tempo e das deserções da terra; a triste conformidade com os inimigos, em que a maior parte se envolveu. Eles não declararam a vocês a pecaminosidade de ouvir os párocos [curates]? Contudo, todos vocês que os apoiaram, não acreditaram nesse relato. A pecaminosidade de pagar a taxa e o imposto local não foi pregada a vocês, e ainda assim todos vocês que o pagaram não acreditaram nesse relato. A pecaminosidade dos ímpios juramentos e obrigações impostas à consciência das pessoas pobres, não foi declarada a vocês? Entretanto, todos vocês que juraram ou tomaram algum deles, não acreditaram nesse relato. Da mesma forma, o pecado, armadilha e perigo dessa tolerância anticristã não foi declarado a muitos de vocês? Contudo, todos vocês que passam a apoiar o mesmo, vocês não acreditam neste relato. E agora, esta noite, eu vos aviso sobre o pecado, armadilha e perigo disso, para que vocês não tenham nada a ver com isso. Pois, uma tolerância é sempre do mal, visto que o que é bom não pode ser tolerado, mas deve ser livremente possuído e recebido como tal. Uma tolerância é expressamente contrária às Escrituras. Dar tolerância à idolatria é uma grande iniqüidade. Israel foi ordenado a destruir seus altares, e quebrar as suas imagens, e derrubar os seus bosques, e queimar a fogo as suas imagens de escultura (Deuteronômio 7.5). Isso estava longe de tolerá-los. Uma tolerância é contrária aos atos e constituição desta igreja, e às fiéis advertências de suas assembléias gerais; e é contrário aos nossos Pactos, que, infelizmente, agora são enterrados pelos que aceitam essa tolerância. E, como as tolerâncias em geral são más, então esta tolerância presente é má e pecaminosa. O fundamento disso é o poder absoluto, que o concedente blasfemamente arroga a si mesmo. Ele corre nesse caminho, pois desativa e suspende nossas leis contra a idolatria. As restrições são tais, que um ministro não pode aceitar, se ele resolver dar ao povo uma advertência fiel do pecado e dever do dia. E aqueles que aceitam essa liberdade, eles mudam o fundamento de seu ministério e dependem para isso das cortes dos homens. E o desígnio de concedê-lo é perverso, não menos do que introduzir a idolatria. Portanto, meus amigos, gostaria de avisá-los, não tolerem ela, não tenham nada a ver com isso, não auxilie nem ouçam aqueles que a abraçaram e a aceitaram, pois estarão livres de seu pecado e não participarão do julgamento com que deve ser perseguida.
Agora, responderei a algumas objeções a respeito.
Objeção 1. Alguns de vocês dirão: “Aqueles que aceitaram e abraçaram essa tolerância são homens bons, por que não podemos ouvi-los?“
Resposta: Admito que muitos deles são homens piedosos e graciosos, mas a aceitação dessa liberdade anticristã não faz parte de sua piedade. Eles não devem ser tolerados em seus pecados, embora nunca tenham sido tão piedosos; por serem assim torna seu pecado ainda mais hediondo: direi essa palavra, 1 Coríntios 3.12,15: “Agora, se algum homem sobre este fundamento edificar, de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, restolho, Se a obra de algum homem for consumida, ele sofrerá perda; mas ainda assim, ele será salvo, como pelo fogo.” Embora o Senhor possa perdoar suas iniquidades e dar-lhes sua alma como presa, ainda assim Ele se vingará de suas invenções.
Objeção 2. Alguns podem dizer: “É uma grande misericórdia ter liberdade para pregar o evangelho; e tendo tal liberdade, não devemos fazer uso dela?“
Resposta: Eu concedo que é uma grande misericórdia ter o evangelho pregado com liberdade: e quando o temos, devemos corretamente nos beneficiar; mas nego que a presente liberdade seja tal, pois, por ela, o evangelho está em maior escravidão, e a verdade em mais escravidão do que antes de ser concedida, embora as pessoas dos homens que a aceitam tenham um pouco mais de liberdade; pois é uma liberdade que vem da fonte do poder absoluto, que é a única prerrogativa incomunicável de JEOVÁ; no entanto, o concessor dessa liberdade toma isso para si mesmo e exige que todos os seus súditos a observem sem reservas. E os que aceitam esta liberdade reconhecem tal poder naquele que a concede, aceitando esta liberdade; sim, é uma liberdade tal que acaba com todas as nossas leis penais contra os papistas e tira o baluarte legal que nossa religião tem. E é uma liberdade que restringe os ministros em sua doutrina; pois, eles são assim ordenados, que não preguem nada, que possa de alguma forma tende a alienar os corações das pessoas do concedente ou de seu governo. É uma liberdade tal que aqueles que a aceitam mudam a base de seu ministério, que eles professavam ter de Cristo, e fazem com que dependa das cortes dos homens; pois, suponha que um ministro seja corretamente chamado e ordenado, e nunca tenha tão boas qualificações e também o chamado do povo, mas ele não pode pregar em nenhum lugar, a menos que dê seu nome a alguns dos conselheiros, xerifes e etc, e eles estão satisfeitos com ele. Essa é tal liberdade que tem como objetivo sua concessão a introdução da idolatria na terra novamente; e os aceitantes e abraçadores do mesmo cooperam com o objetivo da concessão e o aceitam. E é uma liberdade que endurece os inimigos em sua maldade e desviados em sua deserção; e assim ofende muitos dos piedosos na pátria, e prova ser ofensiva e motivo de tropeço para as igrejas no exterior, que não podem deixar de pensar, por isso, que a Escócia, que já foi tão famosa por seu zelo contra o Anticristo, está agora em um caminho justo de reconciliação com ele, quando abraça uma liberdade concedida por seu vassalo, cujo objetivo é introduzir novamente a idolatria na terra. Agora, em consideração a essas coisas, você pode ver, que é pecaminoso aceitar ou tolerar tal liberdade pecaminosa.
Objeção 3. Alguns podem dizer: “Então o que devemos fazer então? Melhor ouvirmos aqueles que aceitaram esta liberdade do que não ouvirmos ninguém.”
Resposta: É o seu grande dever ouvir qualquer ministro fiel, sempre que tiver oportunidade; mas não se segue que deveis ouvir os que aceitam esta liberdade lamentável; pois nas circunstâncias em que nos encontramos, não podemos fazê-lo sem pecado; pois somos somos ordenados a deixar de ouvir a instrução que faz errar das palavras do conhecimento (Provérbios 19.27). E quando não conseguimos que um ministro fiel para ouvir, devemos fazer uso dos meios que o Senhor nos deixou, devemos chorar e lamentar por essa necessidade e ansiar por tê-la novamente. Se você se abster de apoiar os que aceitam essa liberdade, um destes dois deve seguir: procurar que eles sejam convencidos de tal proceder pecaminoso e abandoná-lo; ou então, que o Senhor levantasse ministros fiéis, a quem você pudesse ouvir e a quem Ele apoiaria.
Objeção 4. Alguns podem dizer: “Não é melhor participar do que querer tudo? Se fomos assaltados por um ladrão por nossa bolsa, não é melhor dar-lhe uma parte do que deixá-lo levar tudo? Embora os inimigos não permitam que os ministros apliquem sua doutrina, ainda assim eles lhes dão liberdade para pregar, não deveríamos nos contentar com isso?”
Resposta: Não discutirei o que um homem pode fazer quando agredido por um ladrão por sua bolsa e etc, vendo que, em muitos casos, um homem pode fazer com os seus o que bem entender; mas ele não pode fazê-lo nos assuntos de Deus. Ele não deve ir e vir nos assuntos de Deus; pois neles devemos nos apegar e não deixar nada ir, visto que não são nossos. E um ministro, que seja fiel ao seu Mestre e livre do sangue das almas, deveria e deve fazer uma aplicação particular de sua doutrina, aos pecados, armadilhas, deveres e perigos do tempo, seja quem for que seja ofendido. Pois muitas vezes a vida da pregação está na aplicação da doutrina.
Objeção 5. Alguns podem dizer: “Não devemos ouvi-los, para que sejamos edificados por eles?”
Resposta: É uma questão de tristeza e pesar que tão poucos sejam edificados, mesmo por aqueles que desejam manter suas vestes limpas para guardar o caminho de Deus e serem encontrados fiéis ao Mestre, no dia da provação e tentação. E, no entanto, alguns, ouvindo os ministros que aceitaram essa tolerância, podem ser edificados na providência, mas não têm promessa para isso; pois, não há uma promessa em todas as Escrituras de que Deus aprovará e abençoará um proceder tão perverso. E, se alguém receber edificação, em sua santa providência, serão estes que vierem na sinceridade de sua alma, não sabendo nem vendo o mal desta liberdade; ou que são, em grande medida, ignorantes do conflito do dia. Mas aqueles que vêem algo dos pecados e armadilhas dele, e não ignoram o conflito do tempo, podem esperar pouco benefício deles.
9. Os fiéis ministros de Cristo vos declararam e vos advertiram que a ira e assolações estão vindo sobre a terra. Não vos disseram tais que os juízos estavam vindo e se apressando? Eles não pregaram a vocês que a ira do Senhor se acendeu contra a terra, por causa dos muitos pecados hediondos e abominações perversas cometidos nela? Contudo, o relato disto não foi acreditado, nem creditado pela maior parte, pois todos vós que não procurastes as causas da sua ira, tanto em vós mesmos como nos outros, não chorastes e abandonantes o mesmo, não acreditaram no relato. E todos vós que não vos preparastes para a ira, entrando nos vossos aposentos e fechando as portas à vossa volta, fugindo para Cristo, a cidade de refúgio, não crestes nesse relato.
Entretanto, agora chego a uma segunda doutrina, que é esta:
DOUTRINA 2: Que é motivo de tristeza e dor para os ministros fiéis, quando não se acredita no relato do que pregam.
Essa foi a questão da tristeza do profeta aqui e foi a dor de Jeremias. Jeremias 13.17: “Porém se vós não ouvirdes isto, minha alma irá chorar em esconderijos por causa do vosso orgulho, e meu olho chorará dolorosamente, e se desfará em lágrimas, porque o rebanho do SENHOR foi levado cativo.” Portanto, a tristeza deles é grande devido a essas causas:
1. Porque Cristo, a quem eles pregaram, não é abraçado e acreditado.
2. Porque o relato da Escritura não é acreditado pelas pessoas. E é um sinal seguro de triste ira e desolação se aproximando, quando a pregação tem pouco ou nenhum outro efeito, além de tornar os corações das pessoas mais gordos, seus ouvidos pesados e fechar os olhos, para que não vejam, nem ouçam e nem entendam, pois então podemos esperar desolações terríveis, como está em Isaías 6.9-12. Oh! Este é o grande pecado da Escócia. Que o relato do evangelho não foi acreditado pela maior parte do povo; aquilo que os fiéis ministros de Cristo receberam dele para lhes contar, não foi creditado como deveria. E o que isso diz, senão que a desolação e a ira estão se aproximando? E felizes são aqueles que estão se preparando para o mesmo.