Um sermão sobre o quarto versículo do Salmo dezesseis, no qual todos os cristãos são exortados a fugir da idolatria exterior.
“Suas dores se multiplicarão, aqueles que se apressam atrás de outro deus; suas bebidas, ofertas de sangue, eu não oferecerei, nem tomarei os seus nomes nos meus lábios.”
(Salmo 16.4)
Aqui devemos tratar de uma doutrina bastante clara e simples, embora a maioria daqueles que se dizem crentes não tenham deixado nenhuma sutileza para tentar esconder o seu mal. A essência da questão é que, uma vez que conhecemos o Deus vivo como nosso Pai, e Jesus Cristo como nosso Redentor, devemos dedicar corpo e alma a Ele, que por sua infinita bondade nos adotou como seus filhos; e devemos ter o cuidado de prestar reverência a este bom Salvador pelo que lhe custou tão caro. Da mesma forma, devemos não apenas renunciar a todo tipo de infidelidade, mas também distanciar-nos de todas as superstições, que são contrárias ao serviço de Deus e à honra de seu Filho, e que não podem ser conciliadas com a doutrina pura do evangelho e com uma verdadeira confissão de fé.
Eu disse que esse ensinamento é inerentemente bastante simples e que só faltaria colocá-lo em boa prática, se muitas pessoas não procurassem pequenas cavilações [astúcias ou enganos] para não parecerem culpadas naquilo que é assim condenado pela boca de Deus. Portanto, somos obrigados a insistir mais na sua exposição, para que cada um conheça o seu dever e para que ninguém se engane, supondo ter escapado cobrindo-se com um saco de papel molhado.
No entanto, visto que alguns supõem que essa é uma discussão desnecessária em relação a nós, que, pela graça de Deus, purificamos as nossas igrejas das corrupções e idolatrias do papado; antes de prosseguirmos, será bom mostrar que tais pessoas estão grosseiramente enganadas.
Em primeiro lugar, quando nos é mostrado quão ofensivo é poluir-nos com idolatrias, fingindo consentir com as suas impiedades ou apegar-nos a elas, somos instruídos a gemer a respeito dos nossos erros passados e a pedir o perdão de Deus em todas as situações com toda a humildade, e reconhecer o favor incalculável que Ele nos fez ao nos tirar de tal lamaçal, em que nos havíamos lançado. Não conseguimos magnificar excessivamente tal misericórdia. E, como não sabemos o que nos pode acontecer, nem o que Deus nos reserva, é bom que estejamos preparados, para que, onde quer que estejamos e sejam quais forem as tentações que nos assaltem, não nos desviemos da pura palavra de Deus. Pode haver alguns entre nós que tenham de viajar em terras papistas. Tais pessoas, estando na batalha, devem estar armadas.
Por outro lado, se Deus hoje nos dá liberdade para servi-lo puramente, não sabemos quanto tempo isso irá durar. Aproveitemos, portanto, este tempo de descanso, não como se durasse indefinidamente, mas como um cessar-fogo que nos dá a oportunidade de nos fortalecermos, para que, quando formos chamados a confessar a nossa fé, não estejamos despreparados porque não pensamos nisso quando tivemos tempo.
Devemos igualmente considerar os nossos pobres irmãos que estão sob a tirania do Anticristo, a fim de ter piedade deles e suplicar a Deus que os fortaleça na firmeza exigida na sua Palavra. Nós mesmos devemos também pedir-lhes que não adormeçam nem se gabem; mas antes, tendo compreendido o seu dever, façam o esforço necessário para glorificar a Deus. Pois não somos ensinados apenas para nosso próprio benefício, mas antes para que cada um, de acordo com a medida de sua fé, possa compartilhar com seus próximos o que lhe foi ensinado na escola de Deus. Vemos, portanto, que é útil, e até mesmo necessário, tanto para nós como para nossos irmãos, que nossa memória deste ensino seja frequentemente renovada.
E isto acontece sobretudo quando o texto que devemos expor nos leva até lá. Nesta passagem, Davi faz uma grande afirmação, e um voto solene de que nunca participará dos sacrifícios dos idólatras, e até mesmo de que terá ídolos com tanto ódio e detestação que se absterá de pronunciar seus nomes, como se estivesse poluindo sua boca ao nomeá-los. Isto não é [apenas] uma obra pessoal de um homem. Pelo contrário, o exemplo de Davi é uma regra geral para todos os filhos de Deus.
No entanto, para que possamos compreender melhor isso e sermos mais afetados por esse assunto, observe o motivo que ele atribui a isso, que é como a base de seu terror de estar associado a idólatras. Ele diz: ‘O Senhor é minha herança’ [Salmo 16:5]. Isso não é verdade para todos os crentes? Pelo menos não há crente que não se glorie nisso. E, de fato, é muito certo que, uma vez que Deus se entregou a nós na pessoa do seu Filho, Ele nos convida diariamente a apoderar-nos [tomar posse] dEle.
No entanto, são poucos os que se movidos neste ponto, como exige a situação. Pois só podemos nos apegar a Deus se também formos inteiramente dEle. É, portanto, com justa causa que Davi, com base neste tema de Deus ser a sua herança, determina abster-se de todas as poluições dos ídolos, que nos afastam de Deus e nos alienam dele. É assim que o profeta Isaías (57:6), depois de censurar os judeus por se entregarem aos falsos deuses que eles criaram, acrescenta: ‘eles, eles são a tua sorte [quinhão]’. Com estas palavras ele indica que Deus abandona qualquer união com idólatras, e os despoja e deserda do bem infinito que Ele lhes fez ao dar-lhes Ele mesmo.
Alguém responderá que se trata daqueles que confiam nos ídolos e se enganam pela incredulidade. Isto eu garanto. Contudo, respondo, pelo contrário, que se aqueles que dão aos ídolos toda a honra que é devida a Deus foram totalmente afastados dele; então aqueles que, por medo e fraqueza, fingem consentir com superstições, também estão, pelo menos parcialmente, afastados dEle. Pois, seja sinceramente, suportando-os, estando disposto, ou pela aparência, não há como alguém se aproximar dos ídolos sem se afastar igualmente de Deus.
Que isto seja, portanto, um assunto resolvido para nós: aqueles que procuram apegar-se a Deus como herança, com verdade e com um coração puro, não terão relações com os ídolos, pois Deus está tão afastados deles que deseja que todos os seus os combatam até à morte.
É digno de nota que nesta passagem Davi declara que não participará de suas ofertas e que seus nomes não tomará em seus lábios. Ele certamente poderia ter dito: ‘Não serei enganado nos estúpidos ritos dos incrédulos; Não confiarei em tais abusos; Não deixarei a verdade de Deus para seguir tais mentiras.’ Ele não fala assim, antes diz que não se envolverá nas cerimônias deles. Ele promete assim manter puro o seu corpo no serviço de Deus, bem como a sua alma.
Em primeiro lugar, devemos ver aqui se é idolatria estar externamente naquilo que se concorda que são superstições pelas quais a adoração de Deus é corrompida e pervertida. Aqueles que ultrapassam a cerca alegam que, uma vez que Deus deseja ser adorado em espírito, não se pode adorar ídolos sem confiar neles. Mas a resposta é clara: Deus não deseja tanto ser adorado em espírito a ponto de abandonar o resto como se não fosse dele. Existem muitas outras passagens que falam de dobrar os joelhos diante dele e de levantar as mãos em direção ao céu. E então? O serviço principal que Ele exige certamente é espiritual, mas a declaração [externa] que os fiéis fazem de servir e honrá-lo somente vem em seguida e deve ser prontamente acrescentada. Uma passagem bastará para refutar o uso que fazem deste ditado. Encontra-se registrado no terceiro capítulo de Daniel que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, recusando-se a seguir a superstição que Nabucodonosor havia instituído, declararam que não adorariam seus deuses. Se esses excelentes sofistas estivessem lá, teriam zombado da ingenuidade desses três servos de Deus. Eles teriam dito: ‘Pobres desgraçados, não é adoração se não o fizermos com fé; não há idolatria a menos que haja devoção.’ Mas essas pessoas santas seguiram um conselho melhor. E, de fato, a resposta deles não provém da sua própria mente, mas é o Espírito Santo quem inspira as suas línguas. A menos que queiramos resistir a Ele, devemos extrair desta passagem a regra e a definição de que é um tipo genuíno de idolatria quando alguém comete um ato exterior que é repugnante à verdadeira adoração a Deus, mesmo que possa ser realizado apenas fingidamente. É em vão que estes hipócritas criticam: ‘Não é idolatria, visto que a nossa confiança não está nela.’ Eles são condenados por esta sentença pronunciada pelo grande Juiz.
Agora, essas pessoas discutem, visando apenas diminuir em parte a ofensa que não podem desculpar inteiramente. Eles admitem que isso é um mal feito, mas gostariam que tal ato fosse considerado um pecado venial. Se alguém concedesse o que procuram, ainda assim não teria ganho nada. Suponhamos que não chamamos tal pretensão de adorar ídolos de idolatria. Não será menos uma deslealdade contra Deus, um ato repugnante à confissão de fé, uma poluição e um sacrilégio. Eu lhe pergunto: a honra de Deus não é prejudicada se trairmos a promessa que lhe fizemos, se formos tão covardes a ponto de renunciarmos indiretamente ao nosso cristianismo, se tivermos duas caras e nos poluirmos com coisas que Deus amaldiçoou? Deveríamos torcer a boca e dizer que cometemos um mal menor?
Acabemos, portanto, com tais subterfúgios, visto que eles apenas servem para nos tornar mais ousados na prática do mal, sem diminuir a nossa culpa.
Há outros cuja afronta é maior. Deturpando a passagem, eles não apenas procuram fazer os homens acreditarem que não se trata de um pecado tão grande e chocante; eles mantêm clara e simplemente que não é pecado. Basta, dizem eles, que Deus seja servido de coração. Muito bem, se o coração não tivesse duas caras. Pois no caso da verdadeira integridade, o corpo não puxará na outra direção. Pergunto-lhes o que direciona seus pés para o templo quando vão ouvir a missa – as pernas nunca decolarão por impulso próprio. Assim são persuadidos de que têm alguma afeição por servir aos ídolos e que desejam apaziguar os inimigos da verdade, e que sua vida lhes é mais preciosa do que a honra de Deus. No entanto, o seu atrevimento é demasiado aparente, tanto que me sinto envergonhado de discutir com eles, como se houvesse alguma uma plausibilidade na sua posição. No entanto, é necessário fazê-lo, visto que eles estão muito satisfeitos com isso e são como homens bêbados.
Supõem que é suficiente que Deus seja adorado em espírito. A quem então pertencerá o corpo? São Paulo exorta-nos a levar o Senhor em ambos, porque ambos são dele (1 Coríntios 6.20). Teremos permissão para usar o corpo que Deus criou para prestar reverência ao diabo? Seria melhor que se declarassem simplesmente maniqueístas, negando que Deus é o criador de todo o homem. Se tivessem o menor gosto pelo evangelho, nunca se perderiam em tal licenciosidade, pois mostram que não sabem o que é ter sido redimido pelo sangue do Filho de Deus.
Suponhamos que seja como eles afirmam, então como esperaremos a ressurreição da carne, a menos que Jesus Cristo seja o redentor do corpo e da alma? São Paulo nos instrui a não nos tornarmos servos dos homens, visto que fomos comprados por tão caro (1 Coríntios 7:23). Será que alguém que se entrega ao serviço dos ídolos não pisa o sangue de Jesus Cristo, que é o preço da glória imortal que esperamos em nossos corpos? Qual é o sentido de corromper e profanar nossos corpos diante dos ídolos, já que lhes é prometida a coroa da vida no céu? É esta a maneira de entrar no reino celestial de Deus, chafurdando nos reinos de Satanás? Além disso, não é à toa que se diz que nossos corpos são templos do Espírito Santo.
Portanto, aqueles que não sabem que devemos mantê-los [isto é, nossos corpos] em toda a santidade deixam bem claro que nunca entenderam o evangelho. Eles também demonstram que não sabem nada sobre Jesus Cristo, nem sobre sua graça. Pois, quando diz que somos osso dos seus ossos e carne da sua carne (Efésios 5:30), é certamente para indicar que estamos unidos a ele tanto no corpo como na alma. Não se pode, portanto, contaminar o seu corpo com qualquer superstição, exceto à custa desta união sagrada pela qual nos tornamos membros do Filho de Deus.
Deixe que esses sábios sutis me respondam se receberam o batismo apenas em suas almas. Não ordenou Deus que este sinal fosse gravado em nossa carne? Deveria o corpo no qual a marca de Jesus Cristo foi impressa ser poluído com abominações opostas? A Ceia é recebida apenas em espírito, e não também pelas mãos e pela boca? Deus coloca as provisões de seu Filho em nossos corpos, e devemos contaminá-las com sujeira e lixo? É ilegal imprimir duas moedas numa mesma peça de ouro ou colocar dois selos contraditórios num documento governamental, um em cima do outro. E deve o homem mortal tomar a liberdade de falsificar o batismo e a santa Ceia de Jesus Cristo, e dizer que não há mal nisso? Essas pessoas merecem que seus servos lhes digam que seu coração está determinado a servi-los, quando [na verdade] dormem e se divertem, e não movem nem um dedo para fazer nada. Se eles contestarem que não é a mesma coisa, visto que estamos falando daqueles que estão abaixo de nós, respondo que, visto que Deus, que não precisa de nós, tem o prazer de nos empregar para honrá-lo, é vergonhoso para nós fazer o oposto e esperar ficar bem no que diz respeito a Ele. É ainda mais vergonhoso que uma minhoca e uma carniça [tal como o homem] procurem gozar de maior preeminência do que o seu Criador.
Tais bestas devem ser abordadas de forma ainda mais clara. Dizem que é lícito dissimular entre os papistas. Quem é que lhes dá a comida que ali comem? E quem faz a terra produzir? Se eles não podem negar que Deus os alimenta ali como em qualquer outro lugar, por que honram o diabo com seus corpos? Se fossem cristãos, eu empregaria razões mais elevadas. Em suma, eu lhes perguntaria por que moramos aqui embaixo. No entanto, infelizmente, aqueles que brincam com Deus com suas cavilações tornam-se tão tolos que devem ser tratados como se trata de pessoas loucas. Supõem que seja suficiente dizer que tudo onde estão deve ser feito através do medo. Mas se houvesse base para tal raciocínio, seriamos obrigados a ver que José não teria feito nada de errado se tivesse se deitado com a esposa de seu senhor, não para desfrutar do corpo dela, mas apenas para ceder à força a que ela o estava submetendo. Ele teria agido tolamente se passasse por tanto e se expusesse a tais problemas, já que tinha um meio de escapar. No entanto, é melhor que nos apeguemos ao testemunho do Espírito Santo que elogia a sua fidelidade [de José].
Se alguém não cometer nenhum erro ao praticar a idolatria para evitar a ira dos papistas, então quem trair o seu mestre também será considerado inocente. Um homem que envenena o seu próximo ou comete qualquer outra traição por medo de ofender o seu mestre será desculpado. Isto é insistir muito neste ponto, que não apresenta nenhuma dificuldade ou confusão, como disse. No entanto, vale a pena ver como as pessoas ficam confusas quando procuram escapar do julgamento de Deus por meio de suas sutilezas.
Há pessoas hoje que usam ainda outra forma de fuga. Embora confessem que é detestável envolver-se nas idolatrias dos pagãos, não estão dispostos a estender isso às superstições do papado. Como se todas as impiedades dos pagãos não fossem corrupções do verdadeiro serviço de Deus. Eu lhe pergunto: de onde os pagãos obtiveram todas as suas cerimônias, senão dos santos patriarcas? O mal consistiu em degradar o que Deus havia instituído. Todas as abominações que já existiram no mundo tiveram esta cobertura justa: o nome de Deus e da religião. No entanto, isso não os justificou, nem permitiu que os fiéis participassem delas.
Vamos mais longe. Embora eu lhes conceda aqui que há uma diferença entre a idolatria dos papistas e a dos antigos pagãos, ainda assim eles não podem negar que Deus proibiu ao seu antigo povo a idolatria de Betel, bem como a de terras estrangeiras. Quando os bezerros são colocados em Dã e Betel, é sob o pretexto do nome de Deus, aquele que libertou o seu povo do Egito [1 Reis 12:28]. No entanto, visto que o culto ali estabelecido é repulsivo ao ensino da lei, Deus condena todos os que vão para lá a se poluirem. A Ceia de Jesus Cristo e a Missa papal são tão incompatíveis quanto os sacrifícios de Moisés e de Jeroboão. Portanto, de onde vem essa liberdade de ir à missa, sob o pretexto de que é uma versão disfarçada da Ceia de Jesus Cristo? Pelo contrário, digo que aqueles que verdadeiramente temem a Deus devem detestá-la duplamente, porque profana mais abertamente a santa ordenança do Filho de Deus do que o faria se não fosse estabelecida em oposição a ela.
Portanto, mantenhamos esta regra, que todas as invenções humanas que são criadas para corromper a simples pureza da palavra de Deus, e para desfazer o culto que Ele exige e aprova, são verdadeiros sacrilégios, dos quais o homem cristão não pode participar sem blasfemar contra Deus e pisotear sua honra.
Sei quão difícil e intolerável esta rigidez parece para aqueles que desejam ser tratados de acordo com o seu próprio apetite. O que, entretanto, eles gostariam que eu fizesse? Sabendo o quão delicados eles são, eu os pouparia com prazer, se pudesse. No entanto, eles e eu devemos sofrer condenação assim que Deus fala. Eles não encontram ninguém (assim dizem) mais rigoroso do que eu. Agora gostaria que eles vissem que até agora os tratei com demasiada delicadeza. Seja como for, eles não podem isentar-se do que o profeta Jeremias exige dos judeus que estavam cativos na Babilônia (Jeremias 10:11). Ele não apenas os proíbe de assistir às abominações dos caldeus, ou de fingir consentir com elas, mas também lhes dá ordens expressas para mencionar que isso lhes é repulsivo. Sua mensagem é assim: “Você deve dizer-lhes: ‘os deuses que não fizeram o céu e a terra perecerão da terra e debaixo do céu’.”
Há algo aqui que deve ser observado. Embora o profeta tenha escrito seu livro em hebraico, ele expressa esse versículo no dialeto amplo da Caldéia, como se pressionasse os judeus a falarem outra língua, a fim de mostrar mais claramente seu desacordo com os idólatras. Agora deixem nossos bebês grandes irem reclamar de mim, como se eu fosse radical demais! Na verdade, nunca exigi deles metade do que o profeta exige. Agora, quer eu fale sobre isso ou me cale sobre o assunto, nenhum de nós está menos sujeito a esta lei que Deus nos impõe. E, de fato, não é à toa que Deus se dirige aos fiéis, dizendo: “Vós sois minhas testemunhas e meu servo a quem escolhi” (Is 44:8). Qualquer pessoa que queira ser aprovada como membro de Jesus Cristo deve mostrar que este título lhe convém. Portanto, aqueles que enterram o testemunho da verdade pela sua dissimulação e hipocrisia não têm desculpa.
Então eu pergunto a você: o que acontecerá com aqueles que minarem isso [ou seja, o testemunho] por toda a vida? Pois é isso que fazem aqueles que não apenas escondem o seu cristianismo para não mostrar nenhum sinal dele diante dos homens, mas também cometem ações que lhe são totalmente contrárias. Os filhos de Deus que estão no meio de tais poluições, portanto, não têm outro recurso senão afligir suas almas, segundo o exemplo do bom Ló.
Sim, eles devem falar contra o mal, pois Deus lhes dá meios e ocasião.
Agora especifiquemos as idolatrias que estão na moda hoje em dia. Já mencionei um pouco sobre a Missa. Embora seja uma blasfêmia mais grosseira e chocante do que qualquer outra coisa, ainda existem advogados de casos perdidos que se equivocam sobre isso. Quer queira quer não, eles são obrigados a conceder o que eu digo: a Missa em si é uma renúncia à morte de Jesus Cristo e um sacrilégio criado por Satanás para extinguir o sacramento da Ceia. Nem podem negar que as orações feitas aos santos e as dispensas feitas em relação às ofensas são tantos abusos que profanam a invocação do nome de Deus, que é a mais sagrada de todas as coisas.
No entanto, eles não se consideram culpados por participarem de tal lixo entre os papistas. “O que poderíamos fazer sobre isso?”, eles dizem, “Não temos permissão para reformar as coisas que sabemos serem ruins, porque somos pessoas privadas, e aqueles que têm a autoridade pública os apoiam, então devemos nos conformar”, admito tudo o que eles dizem, mas nada disso é relevante. Não cabe a eles reformar o estado geral da nação, nem ninguém exige isso deles. No entanto, nós os admoestamos a reformarem as suas próprias pessoas, o que está dentro da sua vocação. Não lhes é dito que purifiquem os templos e as ruas, mas que cada homem mantenha seu corpo e sua alma puros e cuide para que Deus seja honrado em sua casa. Abolir a Missa numa nação e abandoná-la se não for possível impedir que seja praticada, são duas coisas muito diferentes.
Novamente eles retornam ao refrão de sua música. Dizem que não renunciam à morte e paixão de Jesus Cristo, porque essa não é a sua intenção. Porém, pergunto-lhes o que é que um cristão confessa com a boca, se não é o que ele acredita no coração? Que o que eles fazem é totalmente contrário à confissão cristã é bastante claro. Assim, eles renunciam e renegam a fé pura tanto quanto podem. Falarei ainda mais incisivamente. A Missa é um sacrifício no qual os papistas pensam em oferecer Jesus Cristo para se reconciliarem com Deus. Se isso estivesse certo, Jesus Cristo não teria obtido a justiça e a salvação eterna para nós através da sua morte e de seu sofrimento. Deixe os homens se contorcerem o quanto quiserem, eles finalmente chegarão a isso. Todos os que assistem à Missa em nome da devoção proclamam o seu consentimento a ela. Assim, no que diz respeito a eles, eles mostram que não tem redenção perfeita por meio da morte de Jesus Cristo.
Há alguns que são um pouco mais contidos. Eles celebram apenas a Missa paroquial, que consideram mais conforme com a Ceia de Jesus Cristo. E, de fato, poder-se-ia dizer que as missas rezadas por monges, cónegos e capelães, e todas as que se baseiam na devoção de um determinado indivíduo, ou que são compradas dia após dia, são como prostitutas provinciais. A missa paroquial é como uma mulher debochada, que se esconde atrás do nome do marido para ser considerada uma mulher honesta. No entanto, a analogia não é totalmente adequada. Uma mulher casada promíscua terá um pouco de vergonha de se entregar a todos. No entanto, a missa paroquial é a mais comum de todas as idolatrias, embora essas pessoas a disfarcem como se retém algum traço da Ceia de Jesus Cristo, como se um bandido fosse um homem melhor porque se vestiu com as roupas do homem cuja garganta ele tinha cortado e montado em seu cavalo.
Eles dizem: “Buscamos a Ceia de Jesus Cristo. Como não podemos tê-lo em pureza sob a tirania sob a qual vivemos, devemos nos contentar com esse vestígio, esperando que Deus lide com ele”. Há uma bela desculpa! Enquanto lhes falta a forma sã e completa da Ceia, a título de provisão temporária, professam que não consideram Jesus Cristo o Sacerdote eterno e único, e que procuram um novo sacrifício todas as semanas para apagar os seus pecados. Pois uma missa paroquial significa tudo isso tanto quanto uma missa de São Nicolau ou uma missa pelos mortos. Eles fingem adorar um ídolo e afirmam buscar Jesus Cristo. E, para evitar guerrear contra Deus sem espada ou escudo, eles avançam usando a autoridade deste homen ou daquele ali. Como se a absolvição de um homem pudesse isentá-lo do julgamento de Deus. Não preciso dizer que eles simplesmente mentem quando apresentam aqueles que apresentam como seus defensores. Mesmo que alguma santa pessoa de importância tivesse pensado por muito tempo que não era um erro tão grande assistir à missa paroquial, se depois ele entendesse o que estava envolvido, deveríamos dar ainda mais crédito à sua condenação dela, pois vemos que a glória de Deus o obrigou a isso [isto é, a expressar a condenação], e que ele se viu derrotado em relação à sua posição anterior.
Mas qual é o sentido de turvar as águas? Eles pensam em rejeitar a Deus com a máxima de um mero homem? Sabemos que somente a verdade governa em seu julgamento, independentemente das pessoas.
Ora, o fato é que a Missa paroquial é instituída com o propósito de sacrificar Jesus Cristo, e de fazer intercessão junto de Deus tanto pelos vivos como pelos mortos, e que ali se adora um pedaço de pão como se fosse o Filho de Deus. Certamente não estou examinando as coisas em detalhes; existem milhares de outras corrupções. Estou me dirigindo apenas as maiores delas. Que aqueles que fingem concordar com elas lavem as mãos o quanto quiserem; eles finalmente não serão mais justos que Pilatos.
No entanto, é surpreendente que estes bons paroquianos, quando chega a Páscoa, procurem uma capela afastada onde algum monge meio cristão possa celebrar uma ceia bastarda para eles. Se a Missa paroquial se aproxima da Ceia de Jesus Cristo, por que não persistem nela? Mas uma vez que lá estão todos os domingos do ano para participar no sacramento da Ceia, renunciam a Ele. Contudo, não se deve admirar muito tal inconsistência. É a verdadeira recompensa de todos os que não estão fundamentados na verdade de Deus: Deus se vinga deles, fazendo com que eles estejam sempre vacilando e se contradizendo na sua conduta.
Eu sei que eles se consideram grandemente injustiçados quando alguém os repreende por causa de uma Ceia tão falsificada. Mas que recurso temos, visto que não está em conformidade com a regra do Mestre? Não o condeno porque é feito em segredo; Sei que a Ceia nunca foi celebrada melhor ou de maneira mais santa do que quando os discípulos se retiraram para celebrá-la por causa da tirania dos inimigos. Há, no entanto, dois vícios intoleráveis aqui: um é que aqueles que erguem esta ceia de macaco fingem que esta é a sua missa e querem que os outros pensem que assim é. A outra é que o pai de quem o recebem não o dá como pastor cristão, mas no seu ofício de sacerdote papal. Eles acham que é uma boa defesa dizer que o seu celebrante não pretende que eles adorem o pão ou o vinho, que omite o Cânon (que contém as maiores impiedades) e que dá ambos os elementos a toda a assembleia. No entanto, quando isso for apresentado ao grande Juiz, eles saberão o bem que tais mantos lhes fizeram.
Eles já devem sentir isso, e eu apelo para as picadas e ferroadas que eles têm em suas consciências. É aqui que este caso deve ser retirado do tribunal. Pois, sem maiores investigações, eles sabem o que procuram refletir tanto para os inimigos de Deus como para as pessoas em geral. Deus teria que renunciar a si mesmo para aprovar tal profissão. Se todos na terra conspirassem juntos para justificá-los, o mais capaz deles nunca seria capaz de absolver-se de hesitar entre dois lados. Bem, Deus declarou por meio de seu profeta que ninguém jamais fará com que Ele aprove tal hesitação (1 Reis 18:21).
Quanto ao homem a quem eles contratam para administrar a Ceia, é uma zombaria tentar fazê-lo passar por competente para tal trabalho. Contudo, dizem que a virtude dos sacramentos não depende da dignidade das pessoas. Isto eu garanto, e digo ainda que se um demônio administrasse a Ceia, não seria pior para ele, e pelo contrário, se um anjo celebrasse a Missa, não seria melhor para isso. Mas outra questão preocupa-nos neste momento: nomeadamente, se as ordens do papa conferidas a um monge o qualificam para desempenhar a função de pastor. Se responderem que não supõem que isso tenha alguma coisa a ver com isso, e que não o escolheram por causa das suas qualificações, os fatos indicam o contrário. Suponhamos, como eles afirmam, que eles não se importam com isso [isto é, com a sua ordenação]; ainda assim devo insistir em sua profissão externa. Parece que estão se protegendo com a máscara de padre. Para celebrar adequadamente a Ceia do Senhor, eles deveriam separar-se da linhagem dos idólatras, para que não tivessem nada em comum com eles neste aspecto. Em vez disso, eles vão, por assim dizer, registrar-se e fingir pertencer ao corpo.
Procuram ainda fazer-nos parecer como os antigos hereges que condenavam o uso dos sacramentos por causa dos vícios dos homens; como se estivéssemos atentos aos vícios pessoais e não aos do Estado. Deixo isso brevemente de lado, mas por pouco que eu mencione o assunto, é suficiente para confundir tão vil atrevimento. Contudo, se eles são tão insensatos que não sentem nada, a palavra de Deus deve ser suficiente para nós.
Ele diz através do profeta Jeremias (4:1): ‘Israel, se queres voltar, volta para mim.’ Estas palavras mostram a simplicidade que devemos usar em nossas relações com Deus, sem rodeios. E é por isso que São Paulo declara que foi enviado para converter os incrédulos de suas vaidades ao Deus vivo (Atos 14:15). Isto é como dizer que não adianta nada passar de um mal habitual para outras falsificações; antes, as superstições devem ser totalmente abolidas, para que a verdadeira religião possa ser estabelecida em sua pureza. Caso contrário, os homens não vão diretamente a Deus, mas vacilam e vagam, sem saber para que lado devem se voltar.
Há outros que chegam ao ponto de abandonar a Missa, mas ainda querem manter alguns outros trechos do que chamam de culto divino. Eles dizem que seu objetivo é evitar serem considerados simplesmente irreligiosos. Talvez haja alguns que fazem isso com boas intenções. Pelo menos, estou feliz em pensar assim. Mas seja qual for o seu desejo, isso certamente não quer dizer que eles se apeguem a uma boa regra, nem a uma boa medida. Alguns dirão: “Podemos assistir a batismos, pois não envolvem nenhuma idolatria evidente.” Como se o sacramento não estivesse desfigurado de tantas maneiras que parece que Jesus Cristo ainda está na casa de Pilatos para ser esbofeteado e submetido a todos tipo de abuso! Quanto ao fato de dizerem que o seu objetivo é mostrar que não são pessoas irreligiosas, pergunte às suas consciências e eles responderão que é para fazer felizes os papistas e que se disfarçam para evitar perseguições.
Outros vigiam o tempo para não encontrar missas. No entanto, eles vão ao templo para que outros pensem que eles estiveram lá [para a missa].
Alguns celebram apenas as vésperas. Gostaria de saber deles se não se importam em oferecer incenso aos ídolos, ou em uma oração solene baseada na intercessão e mérito de algum santo, ou no canto da Salve Regina [‘Ave Maria, Rainha. ..’], coisa tão carregada de blasfêmias execráveis e diabólicas. Nem preciso dizer que o cântico, sendo como é, em uma língua desconhecida, é uma profanação inteiramente patente da Sagrada Escritura e dos louvores a Deus, como São Paulo discute em Primeira Coríntios [no capítulo] quatorze. Perdoemos esta última ofensa: se comparecem às vésperas para fazer alguma ostentação do seu cristianismo, fá-lo-ão especialmente nas grandes festas. Pois bem, ali os principais ídolos serão solenemente perfumados com incenso, que é uma espécie de sacrifício, como ensinam as Escrituras. Era também a maneira pela qual os pagãos geralmente faziam com que os fracos negassem a Deus. Aqui está a questão pela qual a maioria dos mártires sofreu a morte: eles não estavam dispostos a oferecer aromas e incenso aos ídolos. Essas pessoas, ao irem cheirar o cheiro dos incensários, vão se contaminar com a poluição que ali se comete, e acham que deveríamos deixar isso de lado. Eu, no entanto, rogo-lhes em nome de Deus que observem bem o que é dito aqui: que o crente deve detestar tanto os ídolos que não os deixe [isto é, seus nomes] cruzarem seus lábios, por medo de contaminá-los. Esta afirmação certamente deveria nos fazer recuar diante de tudo o que possa nos envolver nas corrupções dos idólatras.
Agora, para falar claramente daqueles que praticam a hipocrisia, tentando chegar a um acordo entre Deus e o diabo, não consigo encontrar melhor ilustração para mostrar a sua verdadeira natureza do que a de Esaú. Quando ele viu seu pai, Isaque, enviar Jacó para a Mesopotâmia para se casar, porque elas [isto é, as mulheres casavéis] de Canaã eram inaceitáveis para ele e Rebeca, sua esposa, ele tomou medidas destinadas a incomodá-los gravemente. De fato, ele casou-se com uma nova esposa, como que para satisfazer parcialmente seus pais, mas não abandonou a que já tinha. Ele manteve assim o mal de que Isaque se queixava, mas para remediá-lo de alguma forma, Ele lançou este novo casamento.
O mesmo acontece com as pessoas que estão tão envolvidas com o mundo que não conseguem obedecer aos mandamentos de Deus, fazem todo tipo de misturas e cozinham todo tipo de ensopados para, de alguma forma, se conformarem à vontade de Deus. No entanto, eles invariavelmente retêm alguma corrupção, de modo que nada do que fazem é puro e correto. Sei que há muitas pobres almas perplexas que, sem hipocrisia, desejam caminhar corretamente, mas não conseguem livrar-se de muitos escrúpulos. Nem estou surpreso com isso, dada a terrível confusão do Papado. Na verdade, tenho muita pena daqueles que procuram alguma forma de adorar a Deus e de se dar bem entre os seus inimigos, se possível.
O que então diremos? Tudo o que sei fazer por qualquer um destes grupos é mostrar-lhes as suas falhas para que possam remediá-las. Se alguém vier perguntar-me detalhadamente sobre este ou aquele ponto, eu o enviarei de volta à regra geral que recebi de Deus. Digo isso porque há alguns que são tão persistentes que eu nunca teria terminado com eles se abordasse todas as suas preocupações. Tais pessoas poderiam muito bem ser comparadas a outras que, depois de ouvirem um sermão exortando-as a vestirem-se com modéstia, sem excessos ou ostentação, gostariam que o pregador costurasse suas calças e costurasse seus sapatos.
O que então devemos fazer? Em tudo isto há um certo objetivo que devemos almejar: deixar que o zelo da casa de Deus tome conta dos nossos corações e suportemos qualquer reprovação que possa recair sobre o seu nome. Quando tal zelo arde em nossos corações, não por um momento, mas incessantemente, nos importaremos tão pouco se nos é permitido fingir que aprovamos abominações que desonram a Deus, que seremos incapazes de manter a paz e dissimular quando as virmos [ou seja, as abominações]. Observe cuidadosamente o que foi dito: ‘o zelo da casa de Deus’ [Sl. 69:9]: isso tem a ver com a ordem externa da igreja que devemos usar ao professar nossa fé.
Não me incomodam os detratores que dizem que falamos assim a partir de uma posição confortável, porque o argumento deles não é comigo, já que não há aqui nada da minha opinião pessoal, como se pode ver. Digo o mesmo para todos os filósofos que emitem seus julgamentos sem compreender. Visto que não se importam em ouvir Deus, que se dirige a eles para ensiná-los, deixo-os diante do seu tribunal, onde ouvirão o seu julgamento que não estará aberto ao debate. Visto que eles não se dignam a ouvi-lo como seu Mestre agora, eles o reconhecerão como seu Juiz, apesar de si mesmos. Os mais rápidos e mais inteligentes deles serão tristemente enganados. Deixe-os fazer o que quiserem para derrubar ou obscurecer o que é certo; esconder a cabeça na areia para se cegar não lhes garantirá a vitória.
Digo isto porque os conselheiros, juízes e advogados não só se comprometem a argumentar contra Deus, para zombar dele, mas vomitam as suas blasfêmias como constrangimentos soberanos, rejeitando toda a Sagrada Escritura. Estas pequenas gárgulas são tão orgulhosas que, depois de terem falado, não suportam que a razão ou a verdade entrem. É por isso que menciono de passagem que elas deveriam considerar que terrível vingança está reservada para todos os que transformam a verdade em um mentira. Que os eruditos do quarto e da poltrona se abstenham de presunções; de criticar o Mestre celestial, a quem todos devemos ouvir.
Aqui títulos justos não servirão para ninguém. Em vez disso, os senhores abades, priores, diretores e arquidiáconos serão obrigados a liderar a dança na condenação que Deus executará. Se meus senhores, os cortesãos, estavam acostumados a satisfazer os homens com sua água benta, não esperem fazer o mesmo com Deus. Que todos os altos e poderosos inclinem suas cabeças e abandonem seu brocado habitual, a menos que queiram sentir a mão poderosa daquele em cuja palavra eles deveriam tremer. É um engano muito grosseiro para eles supor que, ao me tornarem seu adversário, não terão mais Deus como juiz. Que risquem meu nome de seus papéis neste assunto, pois procuro apenas que Deus seja ouvido e obedecido. Não procuro governar as consciências dos homens de acordo com o meu próprio prazer, nem impor-lhes qualquer necessidade ou lei.
Quanto aos outros, que não rejeitam a palavra de Deus com tanta arrogância, e ainda assim são tão fracos e covardes que não é possível fazê-los ceder, exorto-os a olharem para si mesmos um pouco melhor e a não se gabarem como têm feito. .Deixe-os abrir os olhos e acordar para ver e sentir o seu mal. Conheço as dificuldades em que se encontram e não lhes falo sobre servir a Deus puramente entre os idólatras, como se fosse algo fácil de fazer. Mas se lhes faltar força, voltem-se para Deus, para que Ele os fortaleça e para que aprendam a preferir a sua glória a tudo o mais no mundo.
Que todos os pobres crentes que vivem no Papado ouçam isto, pois o profeta Jeremias (estando em Jerusalém) enviou esta mesma instrução ao povo mantido cativo na Babilônia. Se a tirania do papa e dos seus asseclas é dura e cruel, os judeus daquela época tiveram a sua parte no mesmo tratamento. No entanto, eles são ordenados a desprezar a idolatria dos caldeus, no próprio jargão daquela terra. Pois não é justo que a tirania dos homens diminua o direito de Deus de ser honrado por nós. Aqui não há isenção nem privilégio especial para grandes ou pequenos, para ricos ou pobres. Que todos, portanto, curvem o pescoço. Que o pobre tema, para que, se disser: ‘Não sei o que fazer’, Deus também diga: ‘Nem tenho qualquer utilidade para você.’ Não deixe os ricos se embriagarem com sua facilidade, como se estivessem chafurdando na escória. Em vez disso, deixe-os aprender com o exemplo de São Paulo a considerar tudo o que os impede ou os impede de viver como cristãos como lixo e perda.
Contudo, também nós, pela nossa parte, não devemos esquecer o que mencionei no início. Apliquemos isto à nossa própria aprendizagem: onde quer que aterremos, e aconteça o que acontecer, estejamos sempre prontos a perseverar na pura profissão da nossa fé, desprezando todas as superstições, idolatrias e abusos que são contrários à verdade de Deus, que obscurecem a sua honrar e derrubar sua adoração.