Não é honesto usar vestes que não cheguem até os joelhos, como as das filhas de Esparta; porque as mulheres não devem descobrir nenhuma parte dos seus corpos. Talvez seja o caso de lembrar e pegar emprestada a resposta que deu uma mulher a um homem, que dizia, lisonjeando-a: “Tu tens belos braços”. “Sim”, disse ela, “mas eles não estão expostos aos olhos do público”. “Vossas pernas são bem feitas”. “Elas são apenas para o meu marido”. “Vosso rosto é de uma beleza admirável”. “Eu agradeço, mas esta beleza é inteiramente para o meu esposo”. Eu não aprovo que uma mulher honesta permita a ocasião de receber tais elogios da parte daqueles que os oferecem apenas na esperança de seduzi-las e desonrá-las. Elas não apenas estão proibidas de mostrar até mesmo a ponta do pé; elas devem ainda ter a cabeça coberta com um véu quando aparecem em público; pois é-lhes verdadeiramente vergonhoso que sua beleza sirva de armadilha à fraqueza dos homens; é preciso ainda que os véus com os quais elas se cobrem não sejam de púrpura, ou de alguma outra cor muito chamativa, pois atraem os olhares de todos. Eu desejaria também impedir absolutamente o uso de vestes dessa cor e afastá-la assim dos olhos e da atenção de todas essas mulheres, que, desdenhando de fazer vestimentas de outras cores, aprazem-se em trabalhar a púrpura, que inflama suas paixões (*). Elas vivem e morrem em meio a essa cor berrante e que inspira a vaidade.
ALEXANDRIA, Clemente de. O Pedagogo. Tradução de Iara Faria & José Eduardo Câmara de Barros Carneiro. Campinas, SP: Ecclesiae, 2014. 162p.
Nota do Presbiteriano Confessional:
(*) O célebre Clemente de Alexandria defende em muitos momentos de sua obra uma associação entre cores e o suscitar de paixões pecaminosas, a honorável Assembleia da Escócia julgou na Assembleia Geral de 1575 que certos tipos de cores não eram apropriados para o ministros e suas esposas por não transmitirem seriedade:
“Na medida em que uma vestimenta graciosa e decente é necessária em todos, a saber, nos ministros e aqueles que exercem função no Kirk. Em primeiro lugar, pensamos que todos os tipos de bordados são impróprios, todos os bagaries [ou seja, revestimento ou estojo de joias] de veludo em vestidos, meias ou casacos, e todos os cortes supérfluos e vãos, enfeitando com sedas, todo tipo de costura cara em rendas decorativas, ou suntuosos e grandes estofados com sedas; todo tipo de costura cara ou matizes variantes em sarks [isto é, camisas], tipos de matizes claros e variantes em roupas, como vermelho, azul, amarelo e similares, que declaram frivolidade da mente […],que a boa palavra de Deus por eles e sua imoderação não sejam caluniadas; e suas esposas estejam sujeitas à mesma ordem.” (On Appareling of Ministers and their Wives — The National Church of Scotland [1575])