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Posso adorar com aqueles que não cultuam a Deus segundo o modo ordenado nas Escrituras? – John Philpot (1516-1555)

John Phipolt caminhando para o local de seu mártirio (Smithfield)

Onde quer que percebamos que qualquer pessoa adora a Deus verdadeiramente segundo sua Palavra, podemos ter certeza de que a igreja de Cristo ali está; ao qual devemos nos associar e desejar com o profeta Davi: louvar a Deus no meio de sua igreja. Entretanto, se observarmos, pela iniquidade dos tempos, congregações a serem feitas com religião falsificada, diferente do que a palavra de Deus ensina, devemos então, se formos obrigados a ser seus companheiros, dizer novamente com Davi: “Odeio a congregação dos malignos; e não me sentarei com os perversos” [Salmo 26.5]. No Apocalipse, a igreja de Éfeso é altamente elogiada, porque ela testou aqueles que diziam que eram apóstolos, mas não eram de fato e, portanto, não toleravam a companhia deles. Além disso, Deus ordenou a seu povo, pela boca de seu profeta Amós, que não buscassem Betel, nem entrassem em Gilgal, onde a idolatria era praticada. Além disso, devemos considerar que nossos corpos são o templo de Deus, e todo aquele que, como ensina São Paulo, profanar o templo de Deus, o Senhor o destruirá. Podemos nós, homens, tomar o templo de Cristo e torná-lo membro de uma prostituta? Toda religião e idolatria estranhas são contadas como prostituição pelos profetas e mais detestáveis aos olhos de Deus do que o adultério do corpo.

Portanto, diz-se que os príncipes da terra, no Apocalipse de João, cometem fornicação quando estão apaixonados pela falsa religião e seguem a mesma. Então, como, de qualquer maneira, um homem cristão pode pensar que é tolerável estar presente na missa privada papista, que é a própria profanação do sacramento do corpo e sangue de Cristo, e em outros cultos e ritos idólatras, que não são segundo a palavra de Deus, mas sim para a derrogação dela, colocando as tradições do homem acima dos preceitos de Deus; já que Deus por sua palavra julga toda religião estranha, que não é de acordo com sua instituição, uma fornicação e idolatria? (*)

Alguns pensam tolamente que a presença do corpo não é importante, contanto que o coração não consinta com suas ações perversas. Mas essas pessoas pouco consideram o que São Paulo escreveu aos coríntios, ordenando-lhes que glorificassem a Deus tanto no corpo quanto na alma.

Além disso, não podemos causar maior dano à verdadeira igreja de Cristo do que parecer tê-la abandonado e desaprová-la, apegando-se ao seu adversário; pelo que parece aos outros que são fracos, que permitimos o mesmo; e assim, ao contrário da palavra, ofender a igreja de Deus e caluniar externamente, tanto quanto os homens possam, a verdade de Cristo. Melhor seria para ele ter uma mó amarrada ao pescoço e ser lançado no fundo do mar. Tais são traidores da verdade, como Judas, que com um beijo traiu a Cristo.


Notas do Tradutor:

(*) Faz-se necessário ressaltar que segundo o conceito reformado ortodoxo há dois tipos de idolatria, conforme ensina o eminente reformador Zacharias Ursinus (1534–1583):

“Existem, como já observamos, dois tipos principais de idolatria. O primeiro é mais grosseiro e palpável, como quando a adoração é prestada a um falso Deus, que é o caso, quando, em vez de ou ao lado do Deus verdadeiro, uma adoração como aquela que é devida somente a ele, é dada a alguma coisa ou objeto, seja imaginário ou real. Esta forma de idolatria é particularmente proibida no primeiro mandamento, e também parcialmente no terceiro. A outra espécie de idolatria é mais sutil e refinada, como quando o Deus verdadeiro deve ser adorado, enquanto o tipo de adoração que lhe é prestada é falsa, que é o caso quando alguém imagina que está adorando ou honrando a Deus. pela realização de qualquer trabalho não prescrito pela lei divina. Essa espécie de idolatria é mais apropriadamente condenada no segundo mandamento e é denominada superstição, porque acrescenta aos mandamentos de Deus as invenções dos homens. Aqueles são chamados de supersticiosos que corrompem a adoração de Deus por suas próprias invenções.”

Zacharias Ursinus e G. W. Williard, The Commentary of Dr. Zacharias Ursinus on the Heidelberg Catechism (Cincinnati, OH: Elm Street Printing Company, 1888), 517–518.

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