Existem dois tipos de fé — distintos, mas inseparáveis; e, como já foi dito, o tipo de fé é determinado pelo tipo de testemunho, ao passo que ambos são exigidos pela palavra de Deus e pela condição da sociedade humana. A primeira, para fins de distinção, é chamada de fé divina; a outra, humana. “Se acolhemos o testemunho dos homens, maior é o testemunho de Deus,” (1 João 5:9). Cristo disse aos fariseus: “Também está escrito na vossa lei que o testemunho de dois homens é verdadeiro” (João 8:17), veja também Mateus 18:16. Ora, é óbvio que os fatos, e não os princípios, constituem o testemunho. E é inegável que as Sagradas Escrituras sustentam a credibilidade do testemunho humano, ainda que não inspirado. Ainda assim admitimos que: “o testemunho de Deus é maior”. Portanto, raciocino desta forma: — O Senhor Jesus, cujo nome é a Palavra de Deus, a fiel e verdadeira Testemunha, tendo a responsabilidade de revelar e executar os propósitos de Deus; e o diabo, o pai da mentira, que peca desde o princípio, estando assiduamente empenhado em falsificar a vontade revelada e resistindo à execução dos propósitos de Jeová (Apocalipse 5:9; 12:7); ambos os líderes são acompanhados por seus respectivos partidários da família humana. Os protestantes geralmente concordam que o papado é uma organização diabólica contra Cristo e a verdade. Que Cristo é uma pessoa divina, é uma doutrina da Escritura (João 1:1); mas isso é questionado pelo diabo (Mateus 4:6), embora admitido pela igreja de Roma. Cristo, sendo divino, é objeto de adoração e o papado concorda isso. Entretanto, Cristo também é Mediador entre Deus e o homem. Bem, o papado também admite isso e resiste apenas à mediação exclusiva de Cristo; esse ofício a igreja romana distribui entre Cristo, Maria, anjos e etc. E conhecemos tanto os erros quanto as idolatrias como FATOS na história do papado. É verdade que podemos e devemos testar ambos pela palavra de Deus. Por outro lado, sabemos que Cristo é o Filho de Deus e que devemos “honrar o Filho, assim como honramos o Pai” — sabemos dessas coisas, digo, não apenas como declaradas doutrinariamente, mas também como exemplificado na fé e prática da igreja de Deus em todas as épocas. Dos três homens que visitaram Abraão (Gênesis 18:2), o patriarca adora apenas um (v. 22). Os judeus incrédulos reivindicam Abraão como seu pai, mas se recusaram a fazer as obras de Abraão, e assim falsificaram sua afirmação (João 8:33,39). Afirmamos ser a semente das testemunhas pactuadas de Cristo na Grã-Bretanha e na Irlanda; mas, a menos que “andemos nas pisadas de sua fé”, nosso apego professado a essa fé não nos valerá de nada (*).
Contudo, pode-se dizer: Quem nega tudo isso ou o que isso tem a ver com a questão do testemunho? Tudo. O fato de muitos de nossos ex-irmãos almejarem copiar seu “nobre exemplo”, incluindo o Covenanter, é motivo de nossa alegria e ação de graças a Deus. Mas como? Como indivíduos? Como congregações? Como juízes? Se assim for, está tudo bem, desde que eles sigam a Cristo. Ainda assim, Cristo nos ordena “seguir pelas pisadas do rebanho” (Cantares 1:8). Esses passos são práticas cristãs; isto é, são a aplicação de princípios, princípios bíblicos, à vida individual e social. Note-se que Cristo aconselha os indagadores a seguirem os passos do rebanho; tornando assim esses passos ao mesmo tempo diretivos e autoritativos. Podemos conhecer os passos, a prática cristã e social de nossos pais pactuados, apenas pela HISTÓRIA; e somente pelo mesmo meio chegamos a verificar os próprios argumentos pelos quais eles defenderam sua fé e prática.
Minha fé pode ser designada como humana; ou, se preferir, até papista; ainda assim, não tenho vergonha de admitir que a prática de Cameron, Cargill, Renwick e daqueles com quem esses mártires foram associados é uma diretriz para mim e também uma autoridade! Na verdade, sou obrigado a trazer até mesmo seus princípios e argumentos “à lei e ao testemunho”, mas somente a história me fornecerá isso; o que, para que possa fazer, devo tê-lo diante de mim em uma forma autenticada. Neste assunto o Senhor Jesus não permitirá que andemos ao acaso. “Siga o seu caminho… seguindo as pisadas do rebanho.” Os grandes esboços da providência especial do Mediador e das disputas fiéis da igreja devem estar sempre diante de seus filhos, sancionados por sua autoridade em forma judicial, para que a posteridade possa ver como ela andou com Deus no deserto; como também onde ela pode ter agido perfidamente em vista de seu solene compromisso de aliança. Mas o “Prefácio” de Reformation Principles Exhibited deixa os filhos da igreja moldarem seu próprio curso, sem qualquer exemplo orgânico e autoritário. E assim acontece que hoje estamos “divididos em Jacó e dispersos em Israel” [Gênesis 49.7]; embora uma petição tenha sido apresentada ao Sínodo Presbiteriano Reformado para “restaurar o termo testemunho ao seu antigo uso eclesiástico” há mais de DEZESSETE anos!
Trecho de Pastor Steele’s Printed Communications to the Editor of The Covenanter [1855–1857].
(*) Nota do Tradutor: A colocação do Rev. David Steele não poderia ser mais clara, entretanto é mister enfatizar alguns itens de maneira mais direta aos nossos tempos que são abundantes do “espírito de sonolência” (cf. Romanos 11.8), Steele ressalta que afirmar uma ascendência doutrinária (ou até mesmo física) dos covenanters sem aderir a prática ou desprezar a história no qual os princípios defendidos são exemplificados é o mesmo pecados dos judeus que apelavam para Abraão sem seguir os seus passos, o judicioso Matthew Henry (1662–1714) comenta que:
Observe que aqueles que se aprovariam como descendentes de Abraão não devem apenas ser da fé de Abraão, mas fazer as obras de Abraão (Tiago 2:21, 22) — devem atender ao chamado de Deus, como ele fez — devem renunciar a ele seus mais queridos confortos, — devem ser estrangeiros e peregrinos neste mundo — devem manter a adoração a Deus em suas famílias e sempre andar diante de Deus em sua retidão; pois estas foram as obras de Abraão. (Matthew Henry, Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: complete and unabridged in one volume [Peabody: Hendrickson, 1994], 1971.)
Nesse sentido, aderir a fé de Abraão no único verdadeiro Deus (Gênesis 15.4) está ligado a manter também aquele bom caminho trilhado pelo patriarca (Jeremias 6.16), logo qualquer presbiteriano que afirme confessar a fé ensinada, sistematiza, professada e defendida pelos Padrões de Westminster, bem como adotados pela Igreja da Escócia, necessita também seguir as pisadas do rebanho daqueles mantiveram essa doutrina, o que inclui uma aprovação de suas lutas juntamente com os princípios exibidos na história, o que os torna um padrão de imitação autoritativo cuja concordância deve ser um requisito para participação na comunhão eclesiástica e ministerial (Hebreus 13.7). Portanto, aqueles que se chamam de presbiterianos, mas não seguem as pisadas do rebanho, desviam-se pelo caminho dos anabatistas e apoiam o presbiterianismo “americanizado” do século XVIII, precisam ouvir a advertência do presbiteriano George Hutcheson (1615–1674):
“Não há motivo justo para alguém se vangloriar de seus progenitores religiosos, a menos que sigam seus passos; pois, diz Ele, se fôsseis filhos de Abraão e realmente tivéssemos esse privilégio, faríeis as obras de Abraão. Os que se gabam de pais religiosos e ainda assim não os imitam estão apenas lendo uma narrativa para uma triste sentença contra eles mesmos.” (An exposition of the Gospel of Jesus Christ, according to John by Geo. Hutcheson | London: Printed for Ralph Smith …, 1657.)