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Sobre a definição de seita e a existência de salvação em grupos sectários — uma demonstração que o denominacionalismo é anti-reformado e sectário – Presbiteriano Confessional

Exemplos de grupos sectários na Inglaterra

Pergunta:Se todos os grupos que se opõe a constituição da Igreja Reformada da Escócia (i.e., os documentos confessionais e os atos da Assembleia Geral), durante o período mais puro e sagrado entre 1638 e 1649, devem ser considerados como seitas, então todos os membros dos grupos discordantes não irão ser salvos?

Prefacialmente cabe ressaltar que a definição de seita ou sectarismo é um termo mal-compreendido no atual debate nos alegados círculos reformados, visto que é comum alguns partidos relacionarem o sectarismo somente com a “rigidez” ou “pessoas restritas”, assim como há outros que associam os termos exclusivamente aos grupos heréticos (esse é o entendimento de nosso indagador na pergunta inicial), contudo os ortodoxos (i.e., reformados) acreditam que qui bene distinguit, bene docet [1], então faz-se necessário mostrar algumas distinções para elucidar a questão proposta, ainda que não seja o presente objetivo ser exaustivo.

Mormente, o termo seita possui sua origem etimológica na palavra latina secta que significa “cortar, dividir, fatiar, separar” [2], no uso histórico presbiteriano-reformado há vários tipos de seitas ou sectários de acordo com a natureza da divisão que algum grupo faz da doutrina recebida pela Igreja de Cristo (cf. Judas 3), pois existem distinções nos artigos de fé [articuli fidei], conforme ressalta o historiador Richard A. Muller:

“Essa identificação de artigos fundamentais e sua distinção tanto dos principia quanto dos artigos não fundamentais ou consequentes serve para identificar e distinguir os vários tipos de erros contra os quais a polêmica deve ser dirigida. Aqueles que negam os principia theologiae são classificados como infiéis ou incrédulos. Aqueles que aceitam os principia, mas erram nos artigos fundamentais, são hereges. Aqueles que aceitam tanto os principia quanto os articuli fundamentales, mas que se separam dos fiéis por questões doutrinárias menores, são cismáticos.” [3]

Explica-se:

Em primeiro lugar, os principia theologiae abarcam dois pontos principais, a saber, a existência de Deus (principium essendi) e a Escritura (principium cognoscendi), aqueles que não acreditam neles são ateus e incrédulos (cf. Salmo 14.1; Hebreus 11.6).

Em segundo lugar, os articuli fundamentales são aqueles “que é precisamente necessário para ser acreditado por todos os que são salvos.” (Samuel Rutherford [1600–1661]) [4], sem o conhecimento e fé neles não há salvação para os adultos [5], eles são absolutamente necessários para a preservação da religião cristã e, portanto, qualquer que afirme confessar os principia theologiae, mas negue os artigos fundamentais é um herege porque derruba “alguma verdade principal ou substancial ou verdades fundamentais extraídas da Sagrada Escritura por consequência necessária” (George Gillespie [1613–1648]) [6], como a doutrina da Santíssima Trindade (Mateus 28.19), a encarnação do eterno Filho de Deus em duas naturezas distintas e uma só pessoa (João 1.14), que devemos ter fé em Cristo para a salvação (João 3.15), a justificação pela fé (Gálatas 2.16) e etc. Entretanto, os ortodoxos distinguem que um erro em relação ao artigos fundamentais pode ser: (a) direto e imediatamente no qual expressamente arranca um fundamento, como aqueles que negam a divindade de Cristo ou Santíssima Trindade; e (b) indireta e redutivamente em que um fundamento é derrubado por consequência, isto é, um indivíduo não ataca diretamente um fundamento, mas mantém um erro no qual “uma verdade fundamental deve necessariamente e inevitavelmente ser subvertida” (Obadiah Sedgwick [1600–1658]) [7].

Ante o exposto, podemos entender por qual razão os ortodoxos fizeram distinções entre os graus de hereges, como ensina François Turretini (1623–1687):

Aqui, pois, cremos que a questão pode ser solucionada mediante uma distinção entre os hereges. Pois há aqueles que corrompem a substância do batismo e omitem ou mudam a forma da instituição, tais como foram os antigos arianos, que negavam a Trindade de pessoas na unidade de essência, e os modernos socinianos. Outros, embora retenham os substanciais e defendam a verdadeira doutrina da santa Trindade contida na fórmula do batismo, ‘erram em outros tópicos de doutrinas’, como os antigos novacianos e donatistas e os modernos romanistas e arminianos.” (Compêndio de Teologia Apologética XIX.XIV.III)

Logo, conclui-se que a posição de muitos que não distinguem entre os hereges é infundada, um mórmon e russelita estão em um nível acima dos papistas e arminianos, os primeiros erram diretamente, mas os segundos erram indiretamente e mantém algumas verdades substanciais, ainda que todos sejam em um determinado sentido considerados hereges, o fato que a Igreja Romana mantém materialmente as verdades substanciais fez com que toda a ortodoxia reformada não invalidasse o sacramento do batismo entre os romanistas, apesar que os erros mantidos por ela fossem suficientes para a separação eclesiástica.

Em terceiro lugar, os articuli non-fundamentales são aqueles que é possível que um membro da igreja visível não creia ou nutra ideias errôneas, mas ainda seja salvo por não derrubar os artigos fundamentais, esses artigos doutrinários menores incluem a a doutrina do Anticristo (2 Tessalonicenses 2.3,4), a eleição dos anjos (Judas 6), a natureza do milênio (Apocalipse 20.2,3) e etc, isso não significa eles são não bíblicos e nem devem ser aceitos, porém que pode existir fé salvadora sem eles (cf. Zacarias 13.9), ou seja, a questão não está na esfera do dever não acreditar, todavia na possibilidade de alguns não terem conhecimento ou errarem (Hebreus 5.12–14), a falta deles fará com que o indivíduo seja “salvo como pelo fogo” (1 Coríntios 3.15), o teólogo reformado Giovanni Diodati (1576–1649) comenta sobre aqueles mestres que não falsificam a substância do evangelho, mas erram em artigos não-fundamentais:

“Ele sofrerá perda, este seu trabalho de pregar o evangelho, com aquela falsa anexação de doutrinas mundanas e artifícios sendo incapaz de suportar aquela provação do Espírito Santo, não será aceito, nem recompensado em mãos de Deus. No entanto, para sua própria pessoa, se ele se manteve na fé de Cristo, ele deve ser salvo como pelo fogo, ainda assim ele deve ser purificado pelo Espírito Santo, daquela mistura e escória de mundanismo, com a qual ele contaminou a si mesmo e a seu ministério.” [8]

O genebrino Diodati entende que o indíviduo em pauta do texto paulino será salvo por manter a fé em Cristo, ou seja, a fé qua creditur [subjetivamente] (João 4.50) e quae creditur [objetivamente] (cf. Gálatas 1.23), a última é “a substância do evangelho que não foi falsificada” [9][fundamento — 1 Coríntios 3.13), portanto ele não derrubou os artigos fundamentais, apesar de ter falhado nos artigos não-fundamentais. Nessa senda, deve-se observar que os erros nesses artigos não são de pouca importância em si, muitos no ambiente reformado moderno confundem esses tópicos doutrinários com as adiáforas (coisas indiferentes), o que é um erro crasso, o judicioso Matthew Henry (1662–1714) afirma que a linguagem paulina denota a dificuldade pelo qual os que erram nesses assuntos são salvos — o que não poderia ser verdade se fossem questões indiferentes:

“Ele mesmo será arrebatado daquela chama que consumirá sua obra. Isso sugere que será difícil para aqueles que corrompem e depravam o Cristianismo serem salvos. Deus não terá misericórdia de suas obras, embora possa arrancá-los como tições do fogo.” [10]

O reformador João Calvino (1509–1564) cita nominalmente alguns pais da Igreja que mantiveram os artigos fundamentais, porém erram nos tópicos não-fundamentais e não serão louvados por esses desvios:

“É certo que Paulo fala daqueles que, embora sempre mantendo o fundamento, misturam feno com ouro, restolho com prata e madeira com pedras preciosas — isto é, aqueles que edificam sobre Cristo, mas em consequência da fraqueza da carne, admita algo que é do homem, ou por ignorância se afaste até certo ponto da estrita pureza da palavra de Deus. Tais foram muitos dos santos, Cipriano, Ambrósio, Agostinho e outros. Acrescente a estes, se quiser, daqueles de tempos posteriores, Gregório e Bernardo, e outros desse tipo, que, embora tivessem como objetivo construir sobre Cristo, muitas vezes se desviaram do sistema correto de construção. Essas pessoas, diz Paulo, poderiam ser salvas, mas sob esta condição — se o Senhor limpasse sua ignorância e as purgasse de toda escória. […] Ele quer dizer, portanto, íntimo, que não tira deles a esperança de salvação, desde que se submetam voluntariamente à perda de seu trabalho e sejam purificados pela misericórdia de Deus, como o ouro é refinado na fornalha.” [11]

Isso posto, devemos considerar que a falha em articuli non-fundamentales é perigosa e não será aprovada por Deus, então aqueles que erram neles não deveriam ficar entristecidos por que no julgamento final serão repreendidos pelo Senhor Jesus Cristo? (2 Coríntios 5.10). O erro da igreja moderna que é uma das razões do seu enfraquecimento espiritual consiste na pouca atenção que é dada na recepção de toda a doutrina dada na Escritura, pois “cada erro [doutrinário] enfraquece muito a obra da graça dentro de um homem” (James Fergusson [1621–1667) [12], o mesmo é aplicável para a igreja em geral, foi a tolerância sob pretexto de amor que fez os atuais cristãos abandonarem a fé antiga (cf. Apocalipse 2.20), poucos consideram a religião como a principal coisa de suas vidas, então admitem que qualquer um pode crer naquilo que seu coração quer e isso não causará nenhum dano para suas almas, a igreja moderna é fraca em piedade e santidade porque ela não possui a verdadeira doutrina, muitos pensam que nos falta prática e que já possuímos a “teologia”, mas a verdade é carecemos de ambas, sem a ortodoxia não há genuína santidade:

O erro raramente acompanha uma vida santa. As verdades do evangelho têm tal influência sobre a conversação dos homens, que normalmente a santidade dos homens é proporcional à sua solidez na fé.[13]

Outrossim, é mister observar que aqueles mantém os artigos fundamentais, contudo erram nos artigos não-fundamentais não estão isentos do pecado de cisma (σχίσμα), o termo significa uma divisão ou quebra (cf. 1 Coríntios 1.10; 11.18), aqui devemos notar o que termo cisma foi usado pelos reformados de duas formas distintas — sendo o último deles o que cabe em nossa discussão: (1) o cisma como a quebra da unidade e comunhão sem a quebra da doutrina, tendo em vista que Schismaticos facit não diversa fides, sed perturbacommunicanis Societas, isto é, não é uma fé [doutrina] diferente que faz cismáticos, mas uma sociedade quebrada de comunhão [14]; e (2) o cisma como a quebra da unidade doutrinária e histórica, pelo qual ficou conhecido como sectarismo que é a formação de igrejas distintas das Igrejas Nacionais Reformadas em “em doutrina, adoração, disciplina e governo” [15].

Sob o prisma das distinções realizadas anteriormente devemos examinar que a ideia popular do denominacionalismo é uma espécie de sectarismo, visto que ele parte da negação de um conceito unânime entre os ortodoxos reformados, a saber, as igrejas nacionais, a visão denominacional é a formação de novos corpos eclesiásticos que diferem em sua doutrina e prática das antigas igrejas reformadas (nacionais) — defendendo um estado divido e quebrado no seio da Igreja Cristã, promovendo o ceticismo e multiformidade de fés, o denominacionalismo é um afastamento total do entendimento reformado sobre a igreja e sua expansão nas nações e, portanto, os seus defensores são sectários cuja a comunhão deve ser negada por aqueles que são genuinamente reformados.

Nessa senda, o leitor deve compreender que a Igreja Católica Visível é a Igreja Reformada, pois somente ela professa toda a verdadeira religião (CFW XXV.2), como ensina o teólogo Wilhelmus à Brakel (1635–1711):

“A Verdadeira Igreja Refere-se a Si Mesmo como Reformada

Para distinguir a verdadeira igreja de todas as assembleias errôneas, nós chamamos de Reformados — não, porém, em referência à doutrina, como se tivéssemos mudado ou melhorado a mesma. Não, mas de acordo com a Palavra de Deus a verdade permanece impecavelmente preservada. Fazemos isso, no entanto, em referência aos erros que permearam a igreja. Estes a igreja expulsou, partindo da heresia católica romana pela qual ela havia sido oprimida por tanto tempo, e reformando a igreja de acordo com os preceitos da Palavra de Deus.” [16]

A Igreja Reformada (Igreja Católica) expande os domínios de Cristo através do estabelecimento de igrejas particulares em cada nação, elas são filhas da Igreja Geral Visível professando a fé da Mãe [17] (cf. Gálatas 4.26), recebem as dádivas como o ministério e as ordenanças que foram dadas a Igreja Católica para o seu bem-estar (CFW XXV.3; 1 Coríntios 12.28), essa igrejas particulares não são denominações, mas as igrejas nacionais:

“Esta palavra, Igreja-visível, é ambígua: pois propriamente se refere à Igreja universal, dispersa por todo o mundo: mais estritamente, de qualquer Igreja particular, como da França, Inglaterra, Holanda, etc. Igreja representativa ou a companhia de Pastores e Presbíteros”. [17]

O teólogo Johannes Wollebius (1589–1629) demonstra que no entendimento reformado confessional as igrejas particulares são expressões nacionais ou provinciais da Igreja Católica em determinado lugar com suas próprias jurisdições, a categoria de particular é baseada em uma diferença geográfica e não em uma divergência doutrinária, somente há uma Igreja da França, uma Igreja da Inglaterra e uma Igreja da Holanda — estabelecimentos nacionais, todas as igrejas reformadas particulares confessam a mesma fé objetiva, o pressuposto modernista de denominações reformadas é absurdamente falso e antibíblico, nenhuma antiga Igreja Reformada ou ortodoxo defendeu que em uma nação deve existir diversos grupos eclesiásticos com diferentes confissões de fé e tribunais independentes e, por isso, e a reformada Igreja da Escócia e o magistrado civil afirmou sobre a exclusividade daquela igreja particular [Kirk] em seu território:

“ […] não há outra face da igreja, nem outra face da religião, do que aquela que estava atualmente naquela época, pelo favor de Deus, estabelecida dentro deste reino: ‘Que, portanto, é sempre denominada a verdadeira religião de Deus, a verdadeira religião de Cristo, a verdadeira e cristã religião, e uma religião perfeita.’ ” [19]

Isso significa que na Escócia somente a Igreja Nacional era reconhecida como constitucionalmente verdadeira e a genuína expressão local da Igreja Reformada naquele país, esse mesmo conceito foi aplicado em todas as nações reformadas com suas respectivas igrejas nacionais, o teólogo de Westminster Daniel Cawdry (1588–1664) explica a maneira como os ortodoxos ingleses entendiam a Igreja da Inglaterra:

“[…] todas [i.e., congregações ou paróquias] professando a mesma verdade e exercendo o mesmo culto substancial, (como a maioria dos Ortodoxos entendia a Inglaterra como uma Igreja Nacional).” [20]

Uma igreja nacional, como mostra Cawdry, exige uniformidade na confissão da fé e no culto, a Igreja da Inglaterra não eram várias denominações, mas uma igreja que abarcava todas as paróquias para guiá-las em uniformidade sob um governo, bem como tinha a defesa do magistrado civil, esse era o modelo básico da Reforma, que foi bem definido pelo teólogo John Willison (1680–1750):

“Uma Igreja Nacional é quando a nação, com seus governantes e a generalidade do povo, concorda em receber o evangelho, professa suas verdades e se sujeita às suas ordenanças; isto é, quando eles juntam-se e se unem em um corpo eclesiástico, para manter o mesmo sistema de doutrina e regras para o governo e adoração da igreja, conforme julgam mais agradável à palavra de Deus. E assim toda nação ou igreja cristã é aliança com Deus, implícita ou explicitamente. […] Esta excelente prática de nossos ancestrais reformadores têm sido recentemente contestada por alguns, como sem autorização das Escrituras.[21]

Os opositores desse modelo são os independentes, conforme acertadamente mostra o puritano Richard Baxter (1615–1691):

“E os separatistas independentes e anabatistas, por falta de compreensão disso, como eu disse antes, criticam as Igrejas Nacionais com desprezo, e fogem da Concórdia Nacional, entrando Divisões e Seitas sem fim […].” [22]

O próprio Baxter chama os “separatistas independentes” de seitas devido ao desprezo pelas Igrejas Nacionais, não se deve pensar que foram chamados dessa forma porque destruíram os artigos fundamentais, porém pela própria defesa de um conceito que discorda da harmonia da fé ortodoxa reformada, posto que ao se separem da igreja nacional criaram seus próprios corpos eclesiásticos diferindo-se da doutrina, culto e governo confessada na “concórdia nacional”, isso ainda mais é confirmado pelo teólogo Efraim Pagitt (1575–1647) que lista os independentes ou congregacionais em seu livro contra hereges e sectários dizendo que “esses independentes com os brownistas são inimigos de nossas igrejas” [23], visto que o denominacionalismo é peculiaridade do congregacionalismo, bem como que eles não foram considerados como parte da Igreja Reformada, então não existiam denominações na Reforma — o denominacionalismo é sectarismo, um abandono da visão reformada sobre o estabelecimento da igreja em uma nação — visto que é baseado na múltipla tolerância de fés:

Aquilo que infere necessariamente muitas religiões, muitas fés, muitos Evangelhos diversos em uma sociedade cristã, não são de Deus. Mas a tolerância de todos os modos e de muitas religiões é tal; logo, esta tolerância não é de Deus. A proposição é evidente, porque só existe um caminho antigo (Jeremias 6.16); Um Senhor, uma só fé, um só batismo (Efésios 4.5); Uma fé uma vez entregue aos santos (Judas 3), uma verdade a ser comprada (Provérbios 23.23).” [24]

Será que alguém em sã consciência e o uso correto da razão poderia pensar que o teólogo de Westminster Samuel Rutherford (1600–1661) defendia algo como denominacionalismo? A próprio base da visão denominacional é desmoronada pelo pecado que é tolerância de diversas doutrinas em uma sociedade cristã, o indagador precisa ter em mente que há “verdades que são comumente colocadas nas confissões de fé e nos catecismos mais completos e amplos das igrejas reformadas, ou todas as verdades que todos e cada um que vive em uma verdadeira igreja cristã reformada são ordenados e obrigados a aprender e saber” (Gillespie) [25], a negação ou alteração dessas verdades, ou seja, dividir ou separar-se das doutrinas confessadas pelas Igrejas Reformadas é sectarismo (ou seitas), entende-se por igrejas reformadas não os corpos eclesiásticos modernos, mas as igrejas nacionais dos séculos XVI e XVII, o conceito seita conforme os seus graus não inclui meramente um mórmon ou romanista, mas também todos que desviam da fé professada pelas Igrejas Reformadas, isso não é uma afirmação sobre o estado de salvação de alguém, exceto se o indivíduo nega os principia theologiae e os artigos fundamentais (como mórmons, russelitas, arianos e etc), se ele os mantiver, porém negar os articuli non-fundamentales confessados pela Igreja Reformada é um sectário que não pode fazer parte de nossa comunhão, posto que o conceito de seitas é mais amplo do que o senso comum tem acreditado, a fim de mostrar que esse pensamento não é uma peculiaridade reformada, vejamos que um luterano confessional defendeu os mesmos princípios em relação a eles, Theodore Schmauk (1860–1920) nota que:

“Ao separar um homem que não é da nossa fé, de nós mesmos ou da nossa comunhão, estamos simplesmente levando a religião a sério, como o negócio mais prático da vida. Não estamos tentando excluir tal homem da Igreja Cristã, nem julgando seu bem-estar eterno; mas estamos marcando-o como um não-luterano em crença e prática e como não pertencente adequadamente à sua comunhão e fé articular.” [26]

Ainda que esse seja um pensamento difícil para as mentes anabatistas, nunca foi para reformados e luteranos, alguém ser excluído de nossa comunhão reformada não é sinônimo de chamá-lo de ímpio ou não cristão, mas apenas e para sua tristeza de infiel, os presbiterianos confessionais sempre afirmaram que os independentes e outros desertores da Reforma são sectários, todavia sob o prisma que muitos deles mantiveram a essência (esse) da religião continuaram considerando-os como “irmãos” (cf. 2 Tessalonicenses 3.6,14–15), o Presbitério Reformado (i.e., covenanters) considerou muitos corpos presbiterianos como “irmãos”, mas não deixou de testemunhar contra a infidelidades deles:

Em caridade para com esses irmãos [Secederes], somos obrigados a continuar o testemunho até então prestado contra eles; por corromper doutrinariamente e praticamente a ordenação divina do governo civil. […] Portanto, testemunhamos contra estes irmãos [Igreja Presbiteriana Unida], não só por causa da deserção de uma reforma bíblica, mas também porque eles violam notoriamente com impunidade os seus próprios termos reconhecidos de comunhão.” [27]

Tampouco a linguagem de caridade deve ser entendida como uma afirmação que eles são fiéis ou dignos de uma comunhão, o Sr. Marcos Barros falha em compreender ao afirmar que:

“A igreja da Secessão (Seceders) é um belo e peculiar exemplo. O Rev. John Reid II, testemunha e afirma por meio de seus escritos que aqueles, eram irmãos em Cristo e consequentemente uma legítima igreja reformada.” [28]

A incoerência de afirmar que os Seceders são “uma legítima igreja reformada” está que se isso for verdade, então eles são a verdadeira igreja nacional ou a genuína continuação dela, mas isso somente aos covenanters podem alegar e, por consequência, chamaram-se de “verdadeira Igreja Presbiteriana de Cristo na Escócia”, o Sr. Barros não distinguiu que os seceders são verdadeiros quando a esse [por isso, chamado de irmãos], porém ao falhar em manter aspecto do bene-esse [bem-estar] devem ser considerados como não legítimos em sua constituição de igreja, o próprio teólogo seceder John Anderson (1748–1830) diz que:

“Mas quando um número de pessoas, levando o nome cristão, se reúnem como uma sociedade distinta, com o propósito de manter e propagar doutrinas e práticas que, em vez de pertencerem à verdadeira religião, são contrárias a ela; eles não deveriam, considerados como tal combinação, ser chamados de seção legal da Igreja Católica. Não se nega que pertencem à Igreja Católica; mas é negado que deva haver tal seção ou divisão nela. […] Por outro lado, por mais que qualquer grupo de cristãos tenha em comum com outros da nossa santa religião, e por mais que possamos caridosamente julgar que são santos, contudo, embora a sua profissão distintiva seja contrária à Palavra de Deus, a comunhão com eles, como corpo tão distinto, é comunhão sectária; pois implica uma união com eles naquilo que deveria ser rejeitado por toda a igreja católica.” [29]

Isso elucida bem a nossa questão em pauta, pois ao declaramos que certa comunhão é sectária não estamos dizendo necessariamente que eles não são cristãos, mas que não possuem direito de existência devido as suas doutrinas errôneas e nem podemos admiti-los em nossa comunhão íntima, chamá-los de irmãos é reconhecer que existe uma profissão básica de cristianismo, entretanto nunca significou que os consideramos como fiéis, legais ou legítimos, visto que não professam toda a obra da Reforma Pactuada — que é o padrão que medimos a fidelidade de corpos presbiterianos.

Prosseguiremos para examinar que a Igreja da Escócia declarou repetidas vezes que qualquer em seus domínios que discordasse de sua doutrina é um sectário (seita), vejamos o entendimento tomado pela honorável Assembleia Geral da Escócia [1648]:

“Qualquer um que apresente qualquer opinião ou prática nesta Igreja contrária à confissão de Fé, ao Diretório de Adoração ou ao Governo Presbiteriano pode ser justamente considerado como estando abrindo a porta para cismas e seitas.” [30]

Para além disso, a Assembleia Geral da Escócia entende que a tolerância de múltiplas doutrinas no seio da sociedade é uma característica sectária — o que demonstra que o denominacionalismo é sectário:

A indiferença em pontos de religião e o apelo à tolerância para com eles próprios ou para com os outros, por mais diferentes que sejam entre si, não devem ser esquecidas entre as características dos sectários e, portanto, devem ser evitados com mais cuidado e combatidos por todos os que desejam manter firme a profissão de sua fé sem vacilar.” [31]

Leitor, observe que aqui não temos como muitos têm dito “uma rígida, seca e peculiar posição cameroniana”, os textos acima foram escritos pela Igreja Nacional da Escócia em seus tempos de maior pureza, essa não é uma opinião emitida por um teólogo particular, mas o entendimento oficial de uma Igreja Reformada Nacional, qualquer um que discorda de sua doutrina conforme exibida e apresentada em seus documentos confessionais é um cismático ou sectário, a Assembleia Geral também considera como sectário aquele que “não estiver disposto e se recusar a considerar os sectários entre os inimigos da Aliança” [32], ou seja, também é sectarismo não acreditar que são sectários os opositores da Reforma Pactuada conforme preconizada especialmente na Liga Solene e Aliança, que prioriza a “uniformidade na religião, Confissão de Fé, Forma de Governo, Diretório para Adoração e Catecismos”, logo a oposição aos documentos produzidos pela Assembleia de Westminster e recebidos na Igreja da Escócia é sectarismo, a Assembleia Geral seguiu o princípio de nosso abençoado Senhor Jesus: “Quem não está comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.” (Mateus 12.30), a indiferença com a nossa gloriosa Reforma equivale a ser um inimigo dela, não existe neutralidade quando falamos da causa de Cristo e da religião verdadeira.

Dessarte, a Liga Solene e Aliança em seu segundo artigo diz que:

“Que nós iremos, da mesma maneira, sem acepção de pessoas, esforçar-nos para extirpar o Papado, o Prelado […], as superstições, heresias, o cisma, a profanação e tudo o que for contrário à sã doutrina e ao poder da piedade para que não participemos dos pecados dos outros homens, e assim corramos o risco de sofrer suas maldições; e que o Senhor seja um, e Seu nome um, nestes três reinos.”

Os comissários da Assembleia Geral da Escócia identificam quais grupos estão inclusos em heresias e cismas — um deles é a posição independente que é a raiz do denominacionalismo:

“E para a supressão do cisma e das heresias, Sua Majestade está contente e muito disposto que um curso eficaz seja tomado pela Lei do Parlamento, e todas as outras formas necessárias e convenientes para suprimir as opiniões e práticas de Antitrinitarianos, Arianos, Socinianos, Antiescrituristas, Antinomianos, Anabatistas, Arminianos, Familistas, Brownistas, Separatistas, Independentes, Libertinos e Seekers, e geralmente por suprimir toda a Blasfêmia.” [33]

Segundo Rutherford é um elemento do sectarismo está aliado com aqueles que discordam do estabelecimento nacional presbiteriano:

“Você se uniu a todos os sectários, que são contra o Pacto, o Governo, a Confissão de fé e o Diretório de culto, retardaram os procedimentos da Assembleia.” [34]

Contudo, um exemplo da má compreensão disso é exposta pelo Sr. Yan Guedes, a partir da refutação de seu pensamento veremos que o estabelecimento presbiteral é nacional e preza pela uniformidade, enquanto o entendimento atual da massa “presbiteriana” é somente uma derivação medonha do sectarismo do independente:

“O puritanismo entre presbiterianos sempre considerou adequado participar de denominações nacionais, grupos maiores, mesmo que para isso precisasse lidar com alguns problemas. Isso não significa tolerar coisas absurdas.” [35]

O objetivo do Sr. Guedes é estabelecer uma posição contra separação da Igreja Presbiteriana do Brasil (doravante, IPB), entretanto o erro fulcral de seu pensamento é que os presbiterianos puritanos não defenderam “denominações nacionais”, o pensamento denominacional implica em diversas confissões de fé em uma nação gozando de privilégios iguais, não obstante o membro de Westminster Edward Leigh (1602–1671) lembra algo que foi esquecido na teologia “reformada” moderna: “Diferentes formas de Igrejas e de governo da Igreja num Estado devem necessariamente estabelecer nele uma base de conflito e divisão.” [36], Rutherford nota que é contraditório ao testemunho presbiteriano pactual defender a multiformidade:

“E depois a petição ao Parlamento para estabelecer na Inglaterra a mais ampla multiformidade que Satanás pode conceber, e dizer que eles juraram esforçar-se pela uniformidade mais próxima na Religião, e ainda assim pregar e imprimir, e se esforçar pela mesma Aliança, e pela palavra de Deus a regra da Reforma juramentada, a mais ampla multiformidade, e que o Senhor deveria ser um, e seu nome um em ambos os reinos, e ainda que o Senhor fosse dois, ou dez, e seu nome, isto é, os costumes e tipos de religiões ser vinte e dois, para que o nome de Deus possa ser dividido entre socinianos, arianos, familistas, antinomianos, anabatistas, seekers, antiescrituristas, libertinos, céticos, entusiastas, brownistas, independentes, isso é pior do que uma fé implícita papista, que nós rejeitamos.” [37]

Oh! Você rejeita a multiformidade de religiões e defende a única verdadeira religião reformada? É o seu desejo que o nome de Deus seja um (Zacarias 14.9)? Se sim, então junta-se a uniformidade pactuada de Westminster, mas caso negue isso, o único nome adequado para você é ser chamado de sectário, pois se separa da verdadeira união bíblica e reformada contrariando às pisadas do rebanho (cf. Cantares 1.8), o reformador João Calvino ensina que o nome de Deus ser um está ligado com uma mesma profissão de fé e culto entre o povo — uniformidade:

“[…] o Profeta acrescenta expressamente aqui que o nome de Deus é um; como se ele tivesse dito: ‘Não é suficiente que os homens declarem que reconhecem um Deus verdadeiro ou uma divindade suprema, exceto também que concordem em alguma fé verdadeira e simples, para que o nome deste único Deus verdadeiro possa ser celebrado em a Terra.’ […] que o nome de Deus é um; o que significa que existe uma certa maneira pela qual Deus deve ser adorado, que existe uma certa regra fixa, de modo que ninguém deve seguir o que ele mesmo pode imaginar ser certo. […] que o nome de Deus seria um, para que os judeus pudessem entender que Deus não pode ser adorado corretamente, exceto quando Ele é adorado sozinho; e que não pode ser um, a menos que haja uma fé, prescrita e certa, e não alternada entre opiniões diversas, como a dos pagãos, cuja religião não é outra senão seguir o que eles próprios imaginam ou o que derivaram dos seus antepassados.” [38]

Nesse diapasão, é necessário afirmar que a unidade do nome de Deus entre o seu povo evidencia-se pela uniformidade de fé e culto, quando há opiniões diversas, cada buscando estabelecer seu próprio culto, doutrina e governo, então somos mais semelhantes aos pagãos do que aos verdadeiros cristãos, assim todo o pensamento denominacional defendido é estranho ao presbiterianismo confessional, quando o Sr. Guedes tenta defender o presbiterianismo com conceitos independentes que ele pensa que está lutando contra, no entanto termina favorecendo, ele como muitos outros demonstram uma verdade dura e lamentável para os nossos tempos, a saber, a maioria dos alegados presbiterianos sequer faz ideia do que realmente é a fé reformada, confessional e presbiteriana que foi legada na Reforma

Conforme demonstramos acima não existem “denominações reformadas” e nem a IPB equivale a uma igreja nacional reformada, os problemas da IPB são exatamente as “coisas absurdas” que não podem ser toleradas por presbiterianos confessionais, pois nos moldes da Assembleia Geral da Escócia e do testemunho reformado devemos definir a IPB como um grupo sectário, vejamos:

IGREJAS NACIONAIS:

POSIÇÃO DA IPB: “Também não faz parte da tradição da IPB a defesa de um estabelecimento religioso do Estado ou de formas teonômicas da restauração da lei civil de Israel.” [39]

POSIÇÃO REFORMADA CONFESSIONAL:

“No entanto, até tempos recentes, as doutrinas primárias, de que a autoridade civil é aplicável a assuntos religiosos, a propriedade de uma igreja nacional, e de estabelecimentos civis de religião foram admitidos por unanimidade; ou a oposição a eles estava confinada a algumas seitas obscuras ou turbulentas, ou a algum inovador mais ousado, herege dogmático ou libertino declarado.” [40]


MUDANÇAS NOS PADRÕES DE WESTMINSTER:

POSIÇÃO DA IPB:

“Os presbiterianos do Brasil receberam e adotaram uma Confissão modificada, especialmente na relação entre a esfera da Igreja e Estado, afastando-se da ideologia da religião oficial e da uniformidade da religião.” [41]

POSIÇÃO REFORMADA CONFESSIONAL:

“Uma Confissão de Fé para os Kirks de Deus nos três Reinos, sendo a parte principal daquela Uniformidade na Religião que pela solene Liga e Aliança somos obrigados a empreender […]. E sendo a referida Confissão, após o devido exame da mesma, considerada pela Assembleia como sendo muito de acordo com a Palavra de Deus, e em nada contrária à Doutrina, Adoração e Disciplina recebidas; e o governo desta Kirk. […] A Assembleia Geral, portanto, depois de madura deliberação concorda e aprova a referida Confissão quanto à verdade do assunto (julgando-a mais ortodoxa e fundamentada na Palavra de Deus) e também quanto ao ponto de Uniformidade, concordando de nossa parte que seja uma Confissão comum de Fé para os três Reinos.” (Assembleia Geral da Escócia aprovando a Confissão de Fé original] [42]


CONTRA A UNIFORMIDADE RELIGIOSA:

POSIÇÃO DA IPB:

“Entenda-se aqui o termo ‘neopuritano’ (um termo precário, mas já largamente adotado) como referindo-se àquele que manifesta mentalidade extremista que, valendo-se de práticas piedosas (p.ex. salmodia exclusiva), promove a divisão dos irmãos presbiterianos entre os ‘verdadeiros reformados’ e os outros que devem ser convertidos a um tipo de presbiterianismo mais rigoroso, em torno da uniformidade religiosa.” [43]

POSIÇÃO REFORMADA CONFESSIONAL:

“Perto do término da Assembleia de Westminster e da conclusão da guerra civil na Inglaterra, os sectários que surgiram em oposição à Uniformidade da Aliança sobre os princípios da Liga Solene, e que envolveram todas as coisas civis e eclesiásticas nos três reinos em desordem e confusão, exalavam sentimentos latitudinários sobre o assunto da magistratura em seus discursos e escritos, e insistiam por uma tolerância e liberdade gerais.” [44]

Se a IPB defende exatamente aquilo que foi taxado e condenado como sectarismo pelos antigos presbiterianos, então separar-se dela para manter as verdades autenticamente presbiterianas é voltar ao caminho correto que antes nos desviamos (cf. Isaías 55.7), a doutrina anti-reformada da IPB sobre as igrejas e os estabelecimentos nacionais é próprio de “seitas obscuras ou turbulentas”, ela discorda e desdenha da Confissão que recebeu a aprovação da Assembleia Geral da Escócia como “sendo muito de acordo com a Palavra de Deus”, todas as essas verdades levam a conclusão necessário que a “Igreja Presbiteriana do Brasil” é um corpo eclesiástico sectário, não-reformado e anti-presbiteral, o teólogo presbiteriano Thomas Forrester (1635–1706) nos lembra quem são os verdadeiros divisores da Igreja:

“Quem das duas partes aderir à verdadeira Igreja genuína, possuindo suas constituições, autoridade e privilégios, é certo que a parte contrária deve ser os cismáticos; aqui deve ser visto quem são os primeiros partidários, quem primeiro rompeu a cerca, quem primeiro renegou e se opôs aos Pactos, ao Governo, à sã e pura doutrina desta Igreja, em conformidade com os perseguidores, certamente eles e só eles são os cismáticos.” [45]

Se os atuais presbiterianos entendessem isso perceberiam que o verdadeiro cisma (i.e., sectarismo) é cometido por aqueles que abandonaram a constituição da Igreja Reformada, a fim de criar e propagar suas opiniões errôneas, voltar a verdade e abraçá-la firmemente não é cisma ou sectarismo, mas sim o declinar ou retroceder da Reforma, Gillespie sabiamente afirmou: “Não é errado estar engajado pela verdade, mas contra a verdade; não é digno de culpa, mas digno de louvor, apegar-nos tanto quanto já alcançamos.” [46], será que é errado segurar firmemente nossa confissão e conquistas pactuais testemunhando contra aqueles que declinam da obra divina da Reforma? (cf. Hebreus 4.14; 10.23)

Ademais, há um conceito esquecido em discussões eclesiológicas chamado santidade corporativa que consiste no grau de conquistas doutrinárias e práticas alcançadas por um corpo eclesiástico reformado devem ser preservados pela atual geração e as posteriores, de modo que a fidelidade da posteridade é medida pela manutenção desses avanços sem retrocessos (cf. Filipenses 3.16; Gálatas 4.10–11), o teólogo reformado John Brown de Wamphray (1610–1679) nota que:

“Quando Deus maravilhosamente, por seu grande poder e braço estendido, levou uma Igreja a um grande avanço na reforma, será dever dessa Igreja e de seus membros aderir ao grau que alcançaram, com toda perseverança. Será lícito para a Igreja que está apenas subindo a colina permanecer nesse degrau até que ganhe outro; quando ainda não será lícito para a mesma Igreja retroceder depois de ter avançado.” [47]

Isso explica a razão pelo qual os covenanters são firmes e resolutos em sua defesa do princípios pactuados da Segunda Reforma, a declinação deles é pecado, um retrocesso será o primeiro passo para a apostasia completa — que foi demonstrado pela história em todas aqueles que abandonaram a verdadeira fé presbiteriana — é imprescindível lembrar o fato incontroverso que todos os presbiterianos descendem da Igreja da Escócia, bem como que esta igreja particular foi a igreja mais pura da Reforma, conforme bem lembrado pelo Rev. Robert Lusk (1781–1845):

“A igreja reformada da Escócia, em organização visível, anterior ao cisma de 1650, era a verdadeira igreja de Cristo e a mais pura da época, professando e jurando manter as doutrinas e a ordem — a profissão e as realizações do segundo anjo de reavivamento e reforma [Apocalipse 14:8], é uma posição tomada como certa. Um corolário, portanto, necessariamente aparecerá. Os diferentes corpos eclesiásticos orgânicos daquele tempo, ou desde então, permanecendo em oposição aberta, declarada e determinada às doutrinas, ordem e organização desse corpo eclesiástico, não podem, como tais, alcançar o descanso milenar; mas devem ser vistos como seitas — coisas que podem ser abaladas, a fim de serem removidas; do lado do dragão, no grande concurso de 1260 anos de duração; opondo-se a Miguel e seus anjos; zangado com a mulher e seus filhos que testemunham; — e exercendo hostilidade contra o restante de sua semente.” [48]

Essa ligação dos presbiterianos com a Igreja da Escócia implica no dever de manter a sua doutrina e prática, principalmente em virtude da santidade corporativa alcançada: “a mais pura da época”, logo nenhum corpo que use para si o nome de presbiteriano usa esse nome em um vácuo, mas deve traçar sua sucessão histórica ou institucional com a Igreja Reformada da Escócia quando atingiu o mais alto degrau de pureza, a declinação disso é a perca da identidade que automaticamente retira de nós o nome de “presbiterianismo ou presbiteriano”, o teólogo luterano Henry Jacobs ensina algo que todos os ortodoxos reformados concordam:

“Quando [uma igreja] ensina de forma diferente do que ensinaram quem foram seus ancestrais históricos, ela rompeu sua unidade com eles e não é mais a mesma Igreja, não importa se o nome seja mantido, ou por mais preponderantes que do seu lado possam ser maiorias numéricas.” [49]

O sectarismo nasce exatamente da divisão ou rompimento com a igreja particular, a fim de criarmos novas doutrinas, governos e cultos, ele surge do abandono do que foi ensinado pelos nossos antepassados históricos da Reforma Pactuada, isso significa que todos os corpos presbiterianos que romperam a unidade mente e coração [doutrina e prática] com a Igreja da Escócia formaram outra igreja, cuja a existência em si é dividir o corpo de Cristo e fomentar a confusão no meio do povo de Deus, as suas administrações são ilegais e os seus ministros são infiéis, a IPB, IPIB, IPCB, OPC, RPCNA, PCA e etc, abandonaram os documentos confessionais, os Pactos e santidade corporativa, a única conclusão é que são corpos sectários, no qual devemos nos separar para que não sejam contaminados com suas imundícias (cf. 2 Coríntios 6.17–18), ele falam contra a doutrina ensina pelos nossos pais reformadores e, portanto, devemos nos afastar deles (Romanos 16.17–18). Ah, presbiterianos, vocês conseguem aplicar as palavras de Calvino para a sua relação com a Igreja Presbiteriana da Reforma nos séculos XVI e XVII: “Se quisermos estar unidos e juntos com aqueles que vieram antes de nós e constituíram a verdadeira igreja de Deus, devemos seguir seus passos, sendo unos de coração e uma só mente”[50]? Se a Igreja da Escócia foi uma “uma verdadeira igreja de Deus” adotando os Padrões de Westminster e nos gerou na fé apostólica presbiteriana, então por qual razão não estais unidos com ela na profissão da verdadeira religião reformada?

Destarte, se a maioria dos corpos presbiterianos são corruptos, então onde está a verdadeira e fiel Igreja Presbiteriana? Rutherford responde que:

“Quando a maior parte de uma Igreja deserda da Verdade, mas a menor parte permanece sã, a maior parte é a Igreja dos Separatistas, embora a maior parte e mais numerosa no exercício real da Disciplina seja a Igreja; contudo, no caso da disciplina correta, a melhor, embora em menor número, é a Igreja; pois a verdade é como a vida, que se retira dos mais numerosos membros para o coração, e ali permanece em sua fonte, em caso de perigo.” [51]

A verdadeira e fiel Igreja não é mensurada por números, mas pela sua adesão a toda verdade de Deus, a maior parte que abandona a verdade são os verdadeiros separatistas [i.e., sectários], aqueles que são menores em quantidade são grandes diante de Deus devido a confissão da doutrina do Senhor Jesus Cristo. Se você deseja que o nome de Deus seja um, então por que recusa se unir e lutar com aqueles que batalham por essa causa?


“Eu acredito (Senhor, ajude minha incredulidade) na doutrina dos santos profetas e os apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, contida nos livros do Antigo e do Novo Testamento, como a verdade indubitável de Deus, uma regra perfeita de fé e o único caminho de salvação. E eu reconheço a soma da religião cristã, exibida nas Confissões e Catecismos das igrejas protestantes reformadas, e na Aliança Nacional, diversas vezes juramentada pela majestade do rei, pelo Estado e pela Igreja da Escócia, e selada pelo testemunho e subscrição de nobres, barões, cavalheiros, cidadãos, ministros e mestres de todas as classes. Como também, na Liga e Aliança Solene dos três reinos da Escócia, Inglaterra e Irlanda. E eu julgo e acredito em consciência, que nenhum poder na terra pode absolver e libertar o povo de Deus dos vínculos e laços sagrados do juramento de Deus.”

Samuel Rutherford (1600–1661)


“Queridos amigos, morro como protestante presbiteriano, possuo a palavra de Deus como regra de fé e boas maneiras; eu possuo a Confissão de Fé, Catecismo Maior e Breve, Soma do conhecimento salvador, Diretório para Culto público e Familiar, Aliança Nacional e Liga solene, Atos das assembleias gerais e todas as contendas fiéis que foram pela Reforma Pactuada. Deixo meu testemunho aprovando a pregação no campo, e defendendo-a pelas armas.”

James Renwick, mártir (1662–1688)


“Tu deste uma bandeira para os que te temem, que ela possa ser exibida por causa da verdade.” (Salmos 60.4)


Notas:

[1]: Quem bem distingue, bem ensina.

[2]: William Whitaker, Dictionary of Latin Forms.

[3]: Post-Reformation Reformed Dogmatics (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2003), I:421.

[4]: A free disputation against pretended liberty of conscience tending to resolve doubts moved by Mr. John Goodwin, John Baptist, Dr. Jer. Taylor, the Belgick Arminians, Socinians, and other authors contending for lawlesse liberty, or licentious toleration of sects and heresies. pág.: 58–59

[5]: Conferir o caso extraordinário descrito na CFW X.3

[6]: A Treatise of Miscellany Questions, capítulo 9.

[7]: Obadiah Sedgwick, The Nature and Danger of Heresies (Londres: M. F. for Samuel Gellibrand, 1647), 10–11.

[8]: Pious annotations, upon the Holy Bible expounding the difficult places thereof learnedly, and plainly: with other things of great importance. London: printed by T.B. for Nicholas Fussell: and are to be sold at the Green Dragon, in St. Pauls Church-yard, M.DC.XLIII. [1643]

[9]: Ibid.

[10]: Matthew Henry, Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: complete and unabridged in one volume (Peabody: Hendrickson, 1994), 2249.

[11]: John Calvin e John Pringle, Commentaries on the Epistles of Paul the Apostle to the Corinthians, vol. 1 (Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2010), 139–141.

[12]: FERGUSSON, James. A brief refutation of the errors tolleration, erastianism, independency and separation delivered in some sermons from I Job. 4. I, preach’d in the year 1652 : to which are added four sermons preach’d on several occasions, pág.: 6.

[13]: Matthew Poole, Annotations upon the Holy Bible, vol. 3 (New York: Robert Carter and Brothers, 1853), 776.

[14]: SHIELDS, Alexander (1660–1700). A hind let loose, or, An historical representation of the testimonies of the Church of Scotland for the interest of Christ with the true state thereof in all its periods. Pág.: 230.

[15]: An Informatory Vindication [1687]. James Renwick and Alexander Shields.

[16]: Wilhelmus à Brakel em THE CHRISTIAN’S REASONABLE SERVICE, vol. 2

[17]: “As igrejas visíveis locais (também chamadas particulares), como membros da igreja geral, também são apresentadas no Novo Testamento (Gl 1:21,22; Ap 1:4.20; Ap 2:1).” (Forma de Governo da Igreja — Assembleia de Westminster).

[18]: WOLLEBIUS, Johannes. Abridgment of Christian Divinitie, Lib. I; cap. 25; Rule VIII. [London: T. Mab and A. Coles, for John Saywell, 1650], 163).

[19]: The National Covenant of Scotland [1638]

[20]: CAWDRY, Daniel. Independencie a great schism proved against Dr. Owen. London: Printed by J.S. for John Wright …, 1657, pág.: 60–61.

[21]: A Defence of National Churches: And Particularly of the National Constitution of the Church of Scotland, … with a Confutation of Independency, and Several New Opinions Vented in Some Late Pamphlets [1729], pág.: 13

[22]: BAXTER, Richard. Of national churches their description, institution, use, preservation, danger, maladies and cure, partly applied to England. London: Printed by T. Snowden for Thomas Parkhurst …, 1691, pág.: 13.

[23]: PAGITT, Efraim. Heresiography, or, A discription of the hereticks and sectaries of these latter times. Londres: Impresso por W. Wilson para John Marshall e Robert Trot …, 1645, pág.: 77.

[24]: RUTHERFORD, Samuel. A free disputation against pretended liberty of conscience.London: Printed by R.I. for Andrew Crook, and are to be sold at his shop, at the signe of the Green Dragon in St. Pauls Church-yard, MDCIL. [1649], pág.: 146.

[25]: A Treatise of Miscellany Questions, capítulo 9.

[26]: Schmauk, Theodore. The confessional principle and the confessions of the Lutheran church, as embodying the evangelical confession of the Christian church. Philadelphia, General council, Publication board [1911], pág.: 34.

[27]: Act, Declaration and Testimony [1876]. Supplement to Part III.

[28]: Disponível em https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=pfbid02GtkMCNBUom92pw3xLUSR6mo2AbuQRq3XoKc58ZcECuGpSR3h7gWiNKGt6sfR9TR3l&id=100077001336801 .

[29]: ANDERSON, John. Alexander e Rufus. [jan. de 1820 · Cramer & Spear], pág.: 8.

[30]: A true copy of the whole printed acts of the General Assemblies of the Church of Scotland. [Edinburgh?: s.n.], 1682, pág.: 396.

[31]: Ibid, p. 395.

[32]: Ibid.

[33]: A Declaration Of The Commissioners Of The General Assembly, Concerning Present Dangers, And Duties Relating To The Covenant And Religion [1648]

[34]: RUTHERFORD, Samuel. A free disputation against pretended liberty of conscience.London: Printed by R.I. for Andrew Crook, and are to be sold at his shop, at the signe of the Green Dragon in St. Pauls Church-yard, MDCIL. [1649], pág.: 264.

[35]: Disponível em: https://www.facebook.com/yanguedes/posts/pfbid09KWEikcnpEWfiqPbKeKpHsT67W8LJSh8sLRzyf7zGEvSd6Krya4bxRdFsdPMYD4Cl .

[36]: Leigh, Edward. A systeme or body of divinity. London: Printed by A.M. for William Lee, 1654, pág.:337.

[37]: RUTHERFORD, Samuel. A free disputation against pretended liberty of conscience.London: Printed by R.I. for Andrew Crook, and are to be sold at his shop, at the signe of the Green Dragon in St. Pauls Church-yard, MDCIL. [1649], pág.: 253

[38]: CALVINO, João. Commentaries on the Twelve Minor Prophets, vol. 5 (Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2010), 425–429.

[39]: Relatório da Comissão Permanente para Elaboração de Carta Pastoral a Práticas Neopuritanas, pág. 20–21. A Igreja Presbiteriana do Brasil usa uma linguagem enganosa ao associar ligeiramente o estabelecimento nacional conforme defendido pelos ortodoxos com a teonomismo reconstrucionista, a CFW XIX.4 é contra a restauração da lei civil, exceto naquilo que tange a equidade geral: “A eles também, considerado como um corpo político, Ele deu leis civis que terminaram com aquela nacionalidade, e que agora não obrigam além do que exige a sua equidade geral (Êx cap. 21; Ex 22:1–29; Gn 49:10 com 1Pe 2:13,14; Mt 5:17 com versos 38,39; 1Co 9:8–10).”, o objetivo da linguagem da IPB é ligar a posição confessional com uma visão anti-confessional, assim enganando os incautos.

[40]: McCrie, Thomas. Statement of the Difference Between the Profession of the Reformed Church of Scotland [1807], section I.

[41]: Relatório da Comissão Permanente para Elaboração de Carta Pastoral a Práticas Neopuritanas, pág. 26–27

[42]: A true copy of the whole printed acts of the General Assemblies of the Church of Scotland. [Edinburgh?: s.n.], 1682, pág.: 351–352

[43]: Relatório da Comissão Permanente para Elaboração de Carta Pastoral a Práticas Neopuritanas, pág. 76.

[44]: Houston, Thomas. The Reviewer Reviewed, and The Covenanter and Testimony of the Reformed Presbyterian Church Vindicated.

[45]: Rectius instruendum [1684], pág.: 12

[46]: GILLESPIE, George. A Brotherly Examination of some passages of Mr. Colemans. London: Printed by F. Neile for Robert Bostock …, 1646, pág.: 29.

[47]: WAMPHRAY, John Brown de. An apologeticall relation of the particular sufferings of the faithfull ministers & professours of the Church of Scotland. [Edinburgh?: s.n.], 1665, pág.:281

[48]: LUSK, Robert. Characteristics of the Witnessing Church [1843]

[49]: The Distinctive Doctrines and Usages of the General Bodies of the Evangelical Lutheran Church in the United States, [Philadelphia: Lutheran Publication Society, 1893], 91–92

[50]: CALVINO, João. Sermons on Acts (sermon on chapter 4:32–37).

[51]: Rutherford, Samuel. The due right of presbyteries. London: Printed by E. Griffin, for Richard Whittaker and Andrew Crook …, 1644, pág.: 255.

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