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Os Deveres do Casamento — Robert Bolton (1572 – 1631)

OS DEVERES MÚTUOS

Para a feliz realização do casamento, vamos prestar atenção e levar a sério; primeiro, alguns deveres comuns que devem ser desempenhados mutuamente por ambos os lados:

I. Amorosidade, significa uma atração em ação e manter em exercício aquele hábito de afeição conjugal, o amor matrimonial mencionado anteriormente. É um derramamento doce, amoroso e terno de seus corações, com muita ternura afetuosa no peito um do outro; em todas as passagens, momentos e comportamentos, um em direção ao outro. Este coração derretido mútuo, sendo preservado fresco e frutífero, adoçará e embelezará infinitamente o estado de casamento.

Para uma preservação ininterrupta deste comportamento amável de ambos os lados; deixe-os considerar:

  1. A mão sábia da graciosa providência de Deus guiou todos os negócios e os fez estarem juntos. E Ele ordena a constância nesse estado amoroso e leve, Provérbios 5.18-19: Alegre-se com a esposa da sua juventude. Que ela seja como a corça amorosa e a cabra agradável, que seus seios te satisfaçam em todos os momentos, e seja sempre arrebatado com seu amor. Veja também Efésios 5.25, parece-me que esta incumbência do Espírito Santo, sendo muitas vezes lembrada com reverência, deveria sempre repelir e banir de ambos os corações, toda amargura e orgulho; desgosto e descontentamento; todos os desejos perversos de que eles nunca tivessem se encontrado, que eles nunca tivessem visto o rosto um do outro e etc. Uma vez dado o nó, todo homem deve pensar que sua esposa e toda esposa que seu marido, é o mais adequado para ele do que qualquer outro no mundo. Caso contrário, sempre que vir algo melhor, ele desejará que sua escolha seja feita novamente, assim abandona o respeito a este mandamento, a bondade e amor para com os seus. O que é um desprezo inexpiável à providência de Deus e um execrável envenenador dos confortos do casamento.
  2. Pelo poder da ordenança do Casamento, os dois se tornam um. E, portanto, eles deveriam ser tão carinhosamente e ternamente afetados um pelo outro, como seriam pela sua própria carne.
  3. As declarações compassivas e comoventes que Cristo e sua Esposa trocam nos Cânticos: Minha bela, minha irmã, minha amada, minha pomba, minha imaculada, minha bem-amada, o chefe de dez mil e etc, cujo amor casto e fervente o dos casais deve assemelhar-se e imitar.
  4. Que essas expressões mútuas e o exercício deste amor matrimonial são muito poderosos para preservar a castidade, a pureza no corpo e no espírito de ambos os lados. É notado sobre Isaque que ele amou muito Rebeca, isso o preservou especialmente, que ele não caiu na poligamia ou nas concubinas, como muitos dos patriarcas fizeram.

II. Fidelidade

  1. Em relação ao leito conjugal,  eles devem, em ambos os lados, manter invioláveis, incontaminados e honrados. Onde, se eles transgredirem, além de todo um inferno de misérias espirituais, eles atingirão o próprio tendão, o coração e a vida do nó matrimonial; e tornar-se-á merecedor (se o Magistrado fizer, como Deus ordenou entre seu povo) de golpe sangrento de uma morte violenta. E, portanto, cabe a todos os que entram neste estado serem humilhados e se arrependerem de todas as devassidões anteriores; se não ele irá irromper seja num abuso sensual e imoderado do casamento, no qual os pais chamam de adultério com a própria esposa do homem ou em um desejo lascivo pela mulher estranha.
  2. No que diz respeito aos assuntos domésticos e aos negócios da família. O cuidado e o fardo são comuns a ambos. O marido que tem uma esposa pródiga e preguiçosa, apenas tira água com uma peneira e lança seu trabalho em um saco sem fundo, como disse o pagão. E a esposa que é casada com um marido ocioso e esbanjador, puxa uma carroça carregada por um caminho arenoso sem cavalo, pelo qual fica claro uma impossibilidade de prosperar no mundo e prosperar em seu estado exterior.
  3. Na ocultação dos segredos um do outro. É uma traição muito antinatural e monstruosa publicar as falhas e fragilidades uns dos outros, ou qualquer coisa, que na esperança de terem um conselho, eles comunicaram um ao outro. Eles são pássaros doentes, como dizem, que contaminam seus próprios ninhos e loucos que jogam sujeira na cara uns dos outros.

III. Paciência. É um dever sagrado tão precioso e necessário, quanto posso recomendar neste caso, para viverem juntos confortavelmente. Para um exercício mais preparado e constante desse dever considere o seguinte:

  1. Não são dois anjos que se encontram em um estado matrimonial, mas um filho e uma filha de Adão e, portanto, eles irão encontrar enfermidades, fragilidades, imperfeições, paixões e provocações, em ambos os lados.
  2. É uma obrigação dada a todos: Que o Sol não deve se pôr sobre a sua ira, muito mais para o homem e a mulher ligados entre si pelo mais íntimo vínculo.
  3. Isso nunca aconteceu, nem nunca acontecerá nenhum bem, pela separação entre homem e mulher. Bem, eles podem se tornar ridículos para seus servos e o mesmo para seus vizinhos, o assunto das conversas de suas cidades, perturbadores de sua própria casa e como um gotejar contínuo uns nos outros, mas eles nunca ganharão nada bom com sua pressa mútua, ira e impaciência. Que bem pode advir da raiva e indignação de um homem contra sua própria carne? Que loucura prodigiosa é para eles se tornarem estranhos, a quem tantos e perpétuos laços amarraram tão rapidamente; e quem, sem a mais querida e íntima familiaridade, pode desfrutar do contentamento ou da paz de consciência? Suponhamos que o coração se separe da cabeça e negue a ela que força é dada ao cérebro que serve para exercício tanto dos sentidos quanto das consequências da parte superior da alma, o que se seguiria, senão doença, distração e loucura? Ou que a cabeça se separa do corpo; então restringindo dele a força vivificante ou os instrumentos para vivificá-lo e movê-lo, o que seria da cabeça quando o corpo estivesse morto? Prejuízos e misérias proporcionais recaem sobre o estado matrimonial, por desentendimentos, estranheza, amargura e ressentimentos raivosos entre as partes.

Essa graça [da paciência] então será de excelente utilidade e deve ser exercida de muitas maneiras:

  1. Suportando as necessidades e fraquezas, enfermidades e deformidades uns dos outros. E que o homem (pois a mulher é o vaso mais fraco) lembre-se disso; quantas falhas, fragilidades, quedas e quantas vezes Cristo traz remissão e perdoa à sua Esposa, a Igreja. E ele deve amar sua esposa como Cristo ama a Igreja (Efésios 5.25). O corpo não rejeita a cabeça porque ela é calva ou tem apenas um olho. A cabeça não se enfurece contra o corpo porque ele está deformado ou doente, mas antes sente compaixão e se simpatiza.
  2. Sobre acidentes que chegam na família, perdas em seu estado externo, retrocedendo nos negócios e etc. Eles não devem culpar uns aos outros, levando-os a irromper em cólera, impaciência e agitação, mas ambos se apoiam com o abençoado Jó, naquela doce e mansa submissão à vontade de Deus: O Senhor deu, e o Senhor tirou. Abençoado seja o nome do Senhor (Jó 1.21).
  3.  Na espera da conversão um do outro; se algum deles for confirmado. Nesse caso, seja paciente, ore e espere o bom tempo de Deus. Temos o próprio Deus como um doce padrão para esse propósito (veja antes, pág. 102). Ou se alguém for apenas um bebê em Cristo, fraco no cristianismo; lide com justiça, amor e mansidão. Deixe nosso Senhor Jesus, em sua ternura para com os jovens espirituais, ensinar-nos misericórdia desta maneira (veja Isaías 40.11).

IV. Um santo cuidado e consciência para preservar entre si (pois existe uma união, bem como uma castidade virginal e individual) o leito conjugal imaculado, com toda a honra e pureza cristã. Não deve de forma alguma ser maculado e desonrado com excessos sensuais, discursos obscenos, brincadeiras tolas e outros incentivos impuros de luxúria, pois o casamento deve extinguir e não inflamar. Até mesmo no casamento, luxúria intemperante e desenfreada; imoderação e excesso, é considerado tanto pelos antigos quanto pelos modernos teólogos, nada melhor do que o puro adultério diante de Deus.

Dois antigos e dignos pais, Ambrósio e Agostinho, falam assim: O que é o homem intemperante no casamento, senão o adúltero de sua esposa? A resolução do resto soa no mesmo sentido:

“Como um homem pode ser um bêbado perverso com sua própria bebida; e um glutão, por devorar excessivamente sua própria comida: da mesma forma, alguém pode ser impuro no caso imoderado do leito conjugal.” (Dod no Sétimo Mandamento)

Ora, até mesmos os casuístas papistas descobrem e detestam aberrações e exorbitâncias de casais em suas reuniões matrimoniais, mas leia essas passagens com muita modéstia e julgamento.

Ainda mais, ouça o que um verdadeiro filósofo diz sobre o assunto: “No relacionamento privado, diz ele, e no caso do casamento, deve haver moderação; isto é, uma faixa religiosa e devota, pois o prazer que nela existe deve ser misturado com alguma severidade. Deve ser um deleite sábio e consciente. Um homem deve tocar sua esposa discretamente e com honestidade e etc”. Outro assim: “O casamento é um vínculo religioso e divino: e essa é a razão, o prazer que um homem tem dele, deve ser um prazer moderado, duradouro e sério, e misturado com severidade; deve ser um deleite um tanto circunspecto e consciencioso.”.

Podemos conceber que pensamentos moderados, respeitosos e honrados que antiguidade nutria sobre o estado de casamento e a castidade conjugal pelas palavras de Evaristus, Epist. 1. ad omnes Episc. Afri: “Que os casais recém-casados, diz ele, façam oração por dois ou três dias, para que tenham bons filhos e agradem ao Senhor em seus deveres matrimoniais”.

Agora, todas as poluições intemperantes, excessivas ou de qualquer forma exorbitantes do leito conjugal, embora os magistrados não se intrometam com elas, porque fazem sem o caminho da censura humana; contudo, certamente o olho puro de Deus não pode olhar para eles, mas sem arrependimento certamente os atormentará. Penso, portanto, que se o temor de Deus, o horror ao seu Olho Que Tudo Vê, o amor à pureza e etc., não os impedirão de cometer imodéstias e falta de moderação deste gênero; contudo, o horror mortal de que Deus os castigue com justiça, sem filhos, com filhos disformes, idiotas ou prodigiosamente maus, ou com outras aflições horríveis, deve assustá-los de tão abominável imundície.

Em seguida, vamos considerar e levar a sério os deveres peculiares e próprios de cada um deles. 

OS DEVERES DO MARIDO

I. Que ele se comporte como uma cabeça para o corpo (1 Coríntios 11.3; Efésios 5.23):

  1. A cabeça é, por assim dizer, a glória e a coroa do corpo. Portanto, deixe o marido brilhar e mostre-se em uma espécie de eminência, excelência e autoridade sobre a esposa. Ser cabeça implica e importa preeminência, superioridade e soberania, como aparece na gradação do apóstolo (1 Coríntios 11.3). O homem é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça do homem, Deus é a cabeça de Cristo. Para adquirir e preservar  isso que o marido seja viril, forte e digno; não leve, vaidoso, desprezível, que ele não seja amargo, rebelde, cheio de ira, nem ele não seja vil, vicioso, vaidoso e glorioso, tampouco que ele não seja um bêbado, um jogador, um afeminado. A dissolução e uma vida desordenada no homem diminuem e reduzem muito o respeito e a reverência a ele. Majestade, autoridade, venerabilidade em qualquer superior, não é de forma alguma mais diminuída ou mais cedo perdida do que por comportamento leve, inutilidade pessoal ou comportamento indigno em seu lugar. Enquanto o verdadeiro valor, bondade, graça, brilhando de dentro, geram uma reverência mais amorosa e um amor mais reverente do que todas as formas externas de pompa e estado, bem como qualquer arrogância ou grande aparência pode produzir.
  2. A Cabeça é a sede da compreensão, da sabedoria, da discrição, da previsão. A partir dessa consideração que o marido desperte, estimule e amplie seu espírito viril, para compreender e conceber corretamente todos os assuntos, promoções, ocasiões, ofertas, comportamento ingênuo e bens dignos, que possa de qualquer maneira adquirir e promover para as suas esposas o verdadeiro contentamento, honra e felicidade. É sua obrigação necessária e nobre, com cuidado especial, pontual e disposto a cuidar de sua alma, corpo, conforto e crédito com toda mansidão e amor, para instruí-la e informá-la em todas as partes de seu dever e na procura de seu bem.
  3. De fato, a Cabeça tem a precedência e a prerrogativa das operações mais nobres, e a alma dos atos mais divinos, em benefício de seu temperamento e constituição originais, sede dos sentidos e outros instrumentos adequados, apropriados para tais empregos elevados e desafio dessa excelência; ainda assim, o corpo e outras partes são animados e dotados da mesma alma, tanto em substância, faculdades, imortalidade, atividade, em todos os sentidos; de modo que se o pé, por exemplo, tivesse uma orelha , um olho, um espírito animal e uma organização, como dizem os Filósofos, seria apto para tais funções, ouviria, veria e compreenderia tão bem quanto a cabeça. E, portanto, a cabeça, por um instinto natural, por assim dizer, e por simpatia, continuamente e ternamente, com novas sucessões de uma influência viva e rápida, valoriza e refresca outras partes, assim como ela mesma. O marido, pelo benefício de um corpo mais viril, temperado com aptidão natural para que a alma trabalhe mais nobremente; faz ou deveria normalmente superar a esposa em amplitude de compreensão, altura de coragem, firmeza de resolução, moderação de suas paixões, destreza para administrar negócios, outras inclinações naturais e habilidades para fazer mais excelentemente; contudo, deixe-o saber que sua esposa tem uma alma tão nobre quanto ele. As almas não têm sexo, como diz Ambrósio. Na melhor parte, ambos são homens. E se a alma de tua esposa fosse libertada da fragilidade de seu sexo, ela seria tão viril, tão nobre, tão compreensiva e, em todos os sentidos, tão excelente quanto a tua. Ainda mais, e se fosse possível para você mudar de corpo; o dela funcionaria tão virilmente no teu, e o teu tão feminino no dela. Que o marido esteja então longe de insultá-la, desprezá-la ou subestimar o valor de sua esposa, pela fraqueza do sexo dela; isso por considerar que a alma dela é naturalmente tão boa quanto a dele; apenas a excelência de suas operações naturais, algo amortecido, por assim dizer, e incapacitado pela fragilidade daquele corpo mais fraco, com o qual a sábia providência de Deus o revestiu de propósito, para uma utilidade conveniente e confortável para o seu bem; que, eu digo, ele se esforça ainda mais para entretê-la e tratá-la com toda ternura e honra, para recompensar, por assim dizer, o sofrimento dela neste espécie por causa dele.
  4. A Cabeça é a fonte de todo movimento acelerado e sentido, vitalidade e leveza para o corpo. Se a derivação da vida do cérebro fosse contida e interceptada por um tempo; o corpo seria imediatamente surpreendido por uma umidade sem sentido e uma paralisia mortal. A esposa, por causa do marido, abandonou seu lar natal, a casa paterna, o pai, a mãe e muitos confortos desse tipo. E, portanto, há boas razões para ela esperar agora e receber de sua Cabeça; nova substância, e uma influência contínua de vida, prazer confortável e caminhada alegre. Se aquele a cuja companhia e condições ela está agora tão próxima e necessariamente confinada, e, por assim dizer, acorrentada, se mostrar obstinado, ela se considerá totalmente abandonada de qualquer contentamento exterior.

II. Coabitais com elas de acordo com o conhecimento (1 Pedro 3.7): 

  1.  Por uma investigação sábia no início, familiarizando-se oportunamente com sua disposição, afeições, enfermidades, paixões, imperfeições; e então com toda santa discrição, aplique-se e trate-se de uma maneira justa e louvável, para retificar e reformar tudo o que puder; e suportar o resto com paciência, passando por elas sem ira e impaciência, ainda esperando em Deus pela oração, no seu devido tempo, por uma reparação e conformidade adicionais e mais completas. Uma das raízes mais graves de desgosto e descontentamento no estado de casamento é a negligência de uma observação pontual das peculiaridades de cada um; de tomarem a medida correta das maneiras uns dos outros, com propósito, para que, com paciência e tolerância mútuas, possam apoiar-se mutuamente com amor e suportar amorosamente os fardos uns dos outros. Memorável é esse discurso e pode ser um remédio adequado contra as fraudes no casamento; que um homem digno foi questionado por um marido como um casal tão colérico poderia se associar dessa maneira. Assim, diz ele, quando o ataque dela está sobre ela, eu me rendi a ela, como Abraão fez com Sara; e quando meu ataque me atinge, ela cede a mim; e assim nunca lutamos juntos, mas separados.
  2. Por uma providente, discreta e paciente ordenação, condução e administração dos negócios externos e familiares, sem aquela preocupação, impaciência, medo e desconfiança na providência de Deus; sem aquele clamor, arrogância e confusão com que os mundanos costumam perturbar suas próprias casas. É incrível considerar a vasta e inestimável diferença entre o conforto, a calma e os muitos doces contentamentos de uma família, governada pela sabedoria paciente de um homem de mente celestial: e as brigas intermináveis, as amargas contestações sobre ninharias, distúrbios, tumultos domésticos e etc, que assombram aquela família, onde um marido colérico, ganancioso e estúpido domina. Esse último [marido com mente terrena] é como a região intermediária do ar, continuamente dilacerada e dividida por novas comoções, trovões e muitas agitações tumultuosas, que surgem a princípio de algo que não é nada; uma fumaça fina e invisível expelida da terra. Assim, as coisas terrenas, mais vãs que o vapor mais evanescente, normalmente levantam em tais fontes de inquietação e ruído, um mundo de problemas desnecessários, inquietações apaixonadas e auto-irritações. Contudo, aquele primeiro [marido com mente celestial] é como a parte mais alta do ar, cheia de calma, tranquilidade e luz constante; o Sol da justiça ainda brilha sobre ele com os raios abençoados da paciência, do contentamento e da nobreza espiritual da mente; de tempos em tempos dissolve e afasta todas as névoas da tristeza mundana, tempestades de amargura e brigas, matérias no quais os insensatos e desmiolados molestam uns aos outros; e com um calor doce e gentil, refresca e apoia o coração, contra todos os encontros coléricos e aflições provocadas; pela virtude cordial, celestial e curativa como esta que costumava acalmar e repelir os ataques mais tempestuosos contra os santos aflitos (Jó 1. 21; 1 Samuel 3. 18). 
  3. Acima de tudo, conduzindo sua esposa no caminho da vida e no caminho que se chama Santo. Esta é a flor e a coroa de toda a sua habilidade, ser um guia abençoado e forte para ela em direção à felicidade eterna. Por falta desta sabedoria e vontade, muitas pobres almas jazem sangrando até a morte eterna, sob a mão sangrenta e impiedosa de um marido ignorante, profano ou farisaico; que talvez possa ter conhecimento suficiente e demais para prosperar no mundo, para prosperar em seu estado exterior; orgulhar-se para a posteridade; ainda mais, para oprimir, ultrapassar e defraudar seu irmão. Mas sem inteligência, sem compreensão, sem cérebro algum, para ensinar e dizer a sua esposa um passo do caminho certo para o céu, ele  é sábio fazer o mal, como o Profeta fala (Jeremias 4.22). Contudo, para fazer o bem, não há nenhum conhecimento, nenhum hábito sagrado ou coração para orar com ela, para instruí-la e encorajá-la no grande mistério e prática da piedade; para santificar o Sabbath e os dias de humilhação; ler as Escrituras, repetir sermões e conferir coisas boas com ele e etc  — de todas essas coisas ele está tão longe; que embora seja a barreira mais forte para mantê-la fora da graça, e o massacre sangrento de ambas as almas; ele irá querer convencê-la de que tudo isso é preciso demais. Ouça  Crisóstomo: Que ambos vão à Igreja, e depois em casa que o marido exija da esposa, e a esposa do marido, aquelas coisas que foram faladas e lidas, ou pelo menos algumas delas. E no mesmo Sermão, Ensine-a, diz ele, o temor de Deus; e todas as coisas fluirão abundantemente, como de uma fonte; e a tua casa será reabastecida com inúmeras coisas boas.
  4. Por um cuidado consciencioso e constante também pela conversão e salvação de seus filhos e servos. Todo marido e chefe de família é, por assim dizer, um sacerdote e pastor em sua própria casa; e, portanto, se ele não tomar uma atitude para catequizá-los, orar com eles, prepará-los para o Sacramento e trazê-los a disciplina e admoestação do Senhor como aconselha o apóstolo (Efésios 6.4), para restringi-los o máximo que puder dos caminhos obscenos, da má companhia, das corrupções da época, mas permite que eles tenham seu aval em suas rebeliões juvenis, maldizendo o dia do Senhor, visitando cervejarias, teimosia contra o ministério e etc,  até que muitas vezes eles balançam o cabresto, dizendo: Deixe-os então saber que todos os pecados que eles cometem, por negligência e falta de cuidado tão grosseiras, são colocados em sua conta, e ele deve ser exatamente responsabilizado e responder por eles naquele grande e último dia. Ainda mais, deixe-me dizer-lhe ainda aquilo que fará seus ouvidos formigarem e seu coração tremer se não for de diamante e as cordas de seu coração não tenham se tornado em pecados de ferro. Aqueles seus filhos e servos, que por suas omissões impenitentes e falta de cuidado nessa questões, que pereceu em seus pecados, irá amaldiçoá-lo para sempre entre os demônios do inferno. Eles te seguirão para cima e para baixo naquele Lago sempre em chamas, com proibições terríveis e clamores horríveis; clamando continuamente: Ai de nós, que sempre que servimos um mestre tão perverso e miserável, que não se preocupava com a salvação de nossas almas, não tomou nenhuma atitude para nos salvar desses tormentos ardentes. Mesmo os teus próprios filhos, neste caso, gritarão em teus ouvidos, para o mundo sem fim: Ai e que tristeza, que todos nós nascemos de pais tão amaldiçoados, que não tiveram a graça de nos ensinar a tempo os caminhos de Deus; para nos manter afastados de nossas vaidades juvenis e para nos treinar nos caminhos da piedade! Se tivessem feito isso, poderíamos ter vivido nas alegrias intermináveis do Céu; ao passo que agora, como almas condenadas, devemos jazer irrecuperavelmente nestas chamas eternas. Oh, dirão eles, foi a faca ensanguentada de nossos queridos pais, negligência inescrupulosa e cruel, que durante toda a nossa vida cravou profundamente em nossas almas, e agora os estrangulou com horror eterno! Que isso deve ser assim, a observação comum, a experiência comum, muitas vezes confirma. Ouvimos muitas vezes muitos miseráveis malfeitores queixarem-se amargamente no local da execução, contra pais e senhores descuidados e sem consciência deste tipo; e dizendo: Se eles tivessem tido o cuidado e a consciência de terem ensinado e restringido a tempo, não teríamos chegado à morte e ao fim vergonhoso de cães. Quanto mais gritarão contra eles com gritos intermináveis quando sentirem as chamas do inferno?

OS DEVERES DA ESPOSA

I. Deixe-a estar sujeita à sua cabeça

  1. Por uma persuasão reverente e humilde de precedência e autoridade do marido sobre ela, fundamentada e enraizada em sua resolução principalmente: (1.) em virtude da ordenação divina (Gênesis 3.16; Efésios 5.24); (2.) a própria lei da natureza; (3) a liderança do marido; e (4.) a enfermidade feminina, também possam ser motivos poderosos para esse propósito. Pois se o seu coração começar a inchar e a se elevar com uma presunção arrogante de suficiência em relação ao seu sexo; de modo que ela fica descontente e impaciente com as contradições e as ordens, ela traz um mundo de miséria desnecessária, molestamento para sua própria casa e cai em uma grande transgressão e pecado grave contra a instituição e a honra do estado matrimonial. Não é uma nobreza de nascimento, grandeza de porção, agilidade de língua, agudeza de inteligência ou qualquer outro incidente de excelência em seu sexo, que possa lhe dar qualquer direito ou privilégio de apoderar-se da soberania e levar ‘a chuva com a sua própria mão’. Alguns servos também podem ser mais sábios que seus senhores; alguns súditos são mais políticos que seu príncipe; mas isso não lhes dá nenhuma garantia; apesar de tudo isso, seria uma vilania monstruosa e não natural para qualquer servo dominar ou homem privado para correr para um trono real. Nenhuma suficiência de dons, singularidade de valor deve nos afastar daquela posição e lugar em que a sábia providência de Deus e a sabedoria onisciente nos colocaram. Um homem pode ser superior em poder e posição, superior em partes e dons pessoais. Então, nenhuma pretensão ou apelo por parte da mulher, pode possivelmente provocar qualquer dispensa contra Deus e a natureza, de dominar e depor sua cabeça de maneira — o que não próprio do feminino.
  2. Por uma submissão calorosa e alegre: (1.) a todos os seus ditames, instruções legais e honestos, por seu comportamento e conduta pessoal para que possa ser moldado e adequado, com uma acomodação ingênua e amorosa de si mesma, a fim de prestar-lhe toda a honra e dar-lhe todo o contentamento que puder com boa consciência, para educar, ordenar e dispor seus filhos, servos e outros assuntos domésticos (embora haja algumas partes, mais próprias e naturais ao seu sexo, nas quais, a menos que ela seja estúpida, deselegante e estranhamente fraca, será muito não masculino, desonroso e indigno para ele ser muito intrometido, curioso e se envolver). Mas acima de tudo, por guiá-la corretamente no doce e glorioso caminho do cristianismo, que após seu mais próximo e mais querido conforto, comunhão nas melhores coisas e bênçãos espirituais, que só podem acalmar a mente de todas as aflições e adoçar a amargura de alguns dias ruins neste vale de lágrimas, eles podem para sempre ser coroados juntos no céu; (2.) a todas as suas restrições racionais e religiosas, não apenas de hábitos e costumes perversos, modas pecaminosas e paixões, mas em caso de inconveniência, desonra ou justo desagrado, que irão reduzir ou tirar dela a comodidade, vontade, desejos, delícias, esta ou aquela companhia, conformidade com os tempos em seu traje e etc. Pois a esposa, por amor de Cristo, soberania e amor, nega a si mesma, sua própria razão e sabedoria, sua inteligência e obstinação naturais, suas paixões, prazeres e lucros, sua facilidade e liberdade e etc. E a esposa é incumbida pelo bem-aventurado Paulo de estar sujeita ao marido como a Igreja está a Cristo (Efésios 5.24); (3.) a todos os seus movimentos, admoestações, conselhos, confortos, reprovações, ordens, contra-ordens, mesmo em tudo, somente no Senhor. Assim, vemos o corpo repousar sobre o movimento da cabeça, seja para repouso, seja para movimento. Em uma palavra, ela deveria, como um verdadeiro espelho, representar fielmente e devolver ao coração de seu marido, com uma flexibilidade doce e agradável, os contornos e proporções exatas de todos os seus desejos e exigências honestas, isso sem descontentamento, frustração ou tristeza. Pois a sua submissão neste tipo deve ser como a Cristo, sincera, calorosa e livre.

II. Deixe-a ser uma ajudadora (Gênesis 2.18):

Faça-lhe bem todos os dias da sua vida, em todos os momentos, em todas as ocasiões, em todos os estados; de adversidade ou prosperidade; aceitação ou desgraça; doença ou saúde; juventude ou velhice e etc, com gentileza e constância. Um padrão muito memorável e famoso para esse propósito é registrado por Lives. Uma donzela jovem, terna e bonita foi casada (como ele relata) com um homem acometido de anos: que, depois que ela descobriu ter um corpo muito feio e doente; no entanto, não obstante, por razão e consciência, como parece, que agora, pela providência de Deus, ela se tornou sua esposa; ela aceitou muito dignamente, com incrível paciência e contentamento, o enfraquecimento e a repugnância de um marido continuamente visitado e atormentado pela variedade e novas sucessões das mais incômodas e contagiosas doenças. E embora amigos e médicos a aconselhassem de forma alguma a se aproximar dele, por medo do perigo e da infecção; ainda assim, apesar de tudo isso, ela passando, com um grande desdém e desprezo, essas indelicadas dissuasões, estava com ele ainda noite e dia com extraordinária ternura e cuidado; com subserviências e serviços de todos os tipos, acima de sua força, habilidade ou possibilidade, pois seu mais querido afeto conjugal supria e apoiava seu corpo fraco, com novos acessos de vigor e incansabilidade, como diz o autor. Ela era para ele amiga, médica, “marido”, enfermeira. Isto não é nada: Ela era Pai, Mãe, Irmão, Irmã, filha, tudo, qualquer coisa, para lhe fazer bem de qualquer maneira. Ainda mais, se houvesse uma quintessência rara de ternura, carinho, afeição e amor coletada e extraída de tudo isso; dificilmente teria correspondido à sua misericórdia e ao seu afeto por ele. Em caso de necessidade, por motivo de despesa extraordinária e cobranças excessivas a seu respeito; ela vendeu seus anéis, correntes e trajes mais ricos; ela esvaziou seu armário de pratos, seu armário de jóias mais nobres e escolhidas, para lhe fazer bem. E quando ele morreu, e amigos vieram até ela mais para felicitá-la por sua feliz libertação do que para lamentar sua viuvez; ela não apenas depreciou e abominou todos os discursos que tendiam nesse sentido, mas protestou que se fosse possível, ela redimiria voluntariamente a vida de seu marido, com a perda de seus cinco filhos mais queridos. E embora ainda a flor e o auge de seu melhor e mais belo tempo ainda não tivessem expirado; no entanto, ela decidiu fortemente contra um segundo casamento, porque, disse ela, não encontrarei um segundo Valdaura (pois assim era chamado seu marido). Donde parece que esta digna mulher era casada com a alma de seu marido; não para seu corpo, nenhuma enfermidade ou deformidade que pudesse esfriar ou enfraquecer a firmeza e reverência de seu amor. Uma escolha como essa era a maneira de fazer com que as esposas nunca mais se cansassem de seus maridos. Ao passo que as afeições fixadas apenas no exterior de um homem estão sujeitas à tediosa miséria da inconstância e da mudança, à tortura de muitos desejos perversos e impossíveis, de acordo com a vaidade e a irritação de seu objeto transitório. Contra o qual ouve a indignação de um pai antigo: Mas teu marido, diz ele, tornou-se feio e simples. Ele uma vez te agradou: você escolheria um outro marido? O Boi e o Cavalo gostam do seu companheiro. E se um for mudado, o outro não sabe como trabalhar; mas quer, por assim dizer, a metade de si mesmo. Mas tu recusas o teu companheiro de jugo e queres muitas vezes mudar.

A ajuda ao marido deve ser universal, apreendendo e usando com toda prontidão e amor, todas as oportunidades para lhe fazer qualquer bem na alma ou no corpo, nome, propriedade e etc. De maneira especial, ela deve aprender e trabalhar com toda a mansidão da sabedoria e discrição paciente, para prever, planejar e administrar, conforme sua responsabilidade mais adequada e particular, os assuntos domésticos e os negócios dentro do dever, como dizem. Para isso, veja um padrão nobre e glorioso em Provérbios 31. Pelo orgulho, vaidade, ociosidade e luxo destes últimos tempos, em que há tanto inferno na terra; uma raiva tão impetuosa e fúria de pecado em todos os tipos, transportou também aquele sexo para muitas degenerações monstruosas. De modo que nossas grandes mulheres nestes dias seriam muito relutantes em trabalhar segundo este modelo, embora estabelecido pelo próprio Espírito Santo. Ainda assim, até agora nobres princesas e filhas de reis poderosos, tomaram consciência de um chamado específico e se recusaram a não colocar as mãos na vida dos maridos. (Veja Gênesis 18.6. e 27.14; 2 Samuel 13.8).

Entretanto, cima de tudo, que aqui seja seu assistente no estabelecimento e na promoção do rico e real comércio da graça; em erigir e estabelecer o glorioso Reino de Cristo, tanto em seus próprios corações como em suas casas. Esta é a única coisa necessária, sem a qual a sua família é apenas o seminário de Satanás e um viveiro para o inferno. E, portanto, que ela esteja tão longe de seguir um caminho contrário (uma vilania amaldiçoada de algumas esposas perversas no exterior do mundo) ou de um coração morto neste caminho, que é o túmulo de todas as graças espirituais, que, em caso de negligência e defeito, ela deve trabalhar com todas as insinuações sábias, modestas e oportunas, para incitar e estimular seu marido à constância e serviços em exercícios religiosos de oração, leitura, catequização, conferência, dias de humilhação e outros deveres domésticos sagrados. Assim como as duas luzes maiores do Céu governam este grande mundo com sua naturalidade, também deixe o marido e a esposa guiarem o pequeno mundo de sua família, com a luz espiritual do conhecimento e discrição divinos. Quando o Sol está presente em nosso firmamento, a Lua, por um sentimento, por assim dizer, de uma reverência natural à fonte de toda a sua beleza e luz, vela seu esplendor e retira seus raios. Mas quando ele parte para o outro hemisfério, ela se mostra e brilha como uma princesa entre as luzes menores. Quando o marido estiver em casa, deixe apenas a esposa, se necessário, servir como uma lembrança louvável para ele, para guardar seus turnos e momentos de iluminação e informar os corações ignorantes, sombrios e terrenos de seu povo. Contudo, na ausência dele vem o curso dela, quando suas graças de conhecimento e oração e etc, deveriam se mostrar e brilhar sobre eles, para preservá-los da frieza e daquela terrível maldição que paira sobre a cabeça daqueles que não conhecem a Deus e que certamente cairá sobre aquelas famílias que não invocam seu Nome (Jeremias 10.25).

Para concluir o ponto e coroar o estado matrimonial com conforto sólido e duradouro nesse meio tempo, com paz e prazeres eternos, por último: que o homem e a mulher trabalhem fervorosamente para adoçar e santificar seus comportamentos mútuos, tanto os deveres comuns quanto os deveres gerais de um para com o outro, reunindo-se frequente e constantemente em oração. Para persuasão de praticar isso considere essas passagens: Gênesis 25.2; 1 Coríntios 7.5; 1 Pedro 3.7. Acerca disso Ambrósio diz: “Vocês dois devem (falando de casais) levantar-se durante a noite para orar e Deus será invocado por vocês com súplicas sinceras”. “Continuamente, diz Crisóstomo, ensine-lhe coisas proveitosas e ore juntos”.

Se, além das orações familiares, nas quais os assuntos mais gerais da família devem ser recomendados a Deus, o homem e a mulher tomam consciência também deste dever mais privado entre si, no qual muitos detalhes devem ser solicitados, apenas próprios e individuais para aquela sociedade próxima; eu digo, se eles se empenharem nisso com sinceridade de coração, pode ser uma ajuda notável e, pela bênção de Deus, provar um antídoto soberano contra qualquer raiz de amargura, revolta, dissensão ou descontentamento entre eles, (a ira e a má vontade para com qualquer pessoa que esteja à espreita no coração amortece e empobrece totalmente o poder e o conforto da oração, muito mais para com alguém que está ligado a você por tantos laços queridos e perpétuos, de modo que a oração conjunta fará com que deixem de brigar ou os fará abandonar a oração), contra todas as imodéstias, desonras e contaminações do leito conjugal; contra a miséria, a monstruosidade e o aborto espontâneo de crianças; contra o cansaço, a saciedade e a leveza na estima uns pelo os outros; contra mergulhar insensivelmente no abismo da mentalidade mundana, o cancro e a crueldade contra toda graça, conforto e nobreza de espírito e etc. Este sacrifício privado matinal e vespertino oferecido ao trono da graça, com entusiasmo e vida, espiritualizará (assim posso dizer) seu amor e o renovará diariamente em seus corações, com abraços renovados, ardentes e celestiais. Isso adoçará maravilhosamente todas as censuras e injúrias lançadas sobre eles por causa de sua profissão por línguas envenenadas; quando eles se reunirem em privado e suplique a Deus e implorarem em suas mãos misericordiosas, paciência e coragem cristã para tomá-los, em submissão à sua vontade, e conformidade com seu Filho, como tantas coroas de glória para suas cabeças e de alegria em seus corações (Atos 5.41; 1. Pedro 4.14; Jó 31.36). Enquanto isso, isso lhes selará docemente a certeza de se reunirem no futuro no céu, e quando o tempo de tristeza chegar e o golpe da morte os forçar por um tempo, consciência de sua antiga comunhão abençoada em oração, não apenas servirá como um contrapeso contra toda a amargura opressora do luto imoderado que acontece com os mundanos desesperados, mas coroará seus corações na despedida (o que é uma coisa preciosa) com o incomparavelmente mais verdadeiro contentamento interior e duradouro, do que se eles dois tivessem cuidadosamente acumulado e amontoado juntos toda a riqueza deste e do outro mundo dourado.

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